Volto ao seu contacto antes da data prevista, porque o motivo o merece. No último dia do ano, celebrámos a vida e o legado de Desmond Tutu pela sua relevância para o trabalho que desenvolvemos. Por isso, partilho consigo alguns traços dessa homenagem que nos pode inspirar para este arranque de ano!
Ninguém como ele foi tão responsável pela interpretação e a operacionalização do conceito Ubuntu que adotámos, numa mediação inspirada do Prof. John Volmink. Em todas as edições de qualquer Academia Ubuntu, em qualquer país, contexto cultural ou religioso, a primeira voz que se ouve é a sua, com a sua forma inconfundível de nos partilhar enfaticamente “the profund truth is…” . E que verdade profunda aprendemos com ele?
Com ele aprendemos o significado de Ubuntu como “eu sou porque tu és; torno-me Pessoa através das outras Pessoas”. Sabemos que precisamos que cada um à nossa volta se realize em plenitude, para que nós o possamos fazer também. Recordaremos que a solidariedade que nos une, faz com que a tua dor seja a minha dor e a tua alegria seja a minha alegria também.
Aprendemos com Desmond Tutu que é perfeitamente compatível uma defesa intransigente e corajosa de princípios fundamentais associados à dignidade humana, ao mesmo tempo que se advoga o princípio da não-violência e se procuram caminhos de perdão e reconciliação.
Recordaremos como liderou com sabedoria a Comissão Verdade e Reconciliação, não tendo vergonha de chorar com as vítimas, mas nunca perdendo a ambição de um caminho de libertação que representa o processo de reconciliação.
Inspirar-nos-emos na sua coragem destemida, como quando, em 1985, saltou para o meio de uma multidão em fúria que procurava fazer justiça pelas próprias mãos, perante alguém indefeso caído no chão. Isso desafia-nos a que não tenhamos medo de enfrentar multidões quando o que está em causa é a defesa da vida humana e a promoção da verdadeira justiça.
Não esqueceremos a sua enorme coerência em função dos valores que defendia, não só na luta contra o iníquo apartheid, durante anos sem fim, mas também, se necessário, na crítica ao despotismo de alguns líderes africanos como Mugabe ou o comportamentodo ex-presidente sul-africano, Zuma. A sua verticalidade é também um legado que deixa.
Com Desmond Tutu compreendemos que o que verdadeiramente conta é o carácter de cada um e não a sua pertença étnica, religiosa, política ou sociocultural. Com a sua história do vendedor de balões não esqueceremos o que importa mesmo: o que está dentro de nós. Lembrar-nos-emos que cada um de nós – começando por ele, primus inter pares – é um VSP: Very Special Persone que devemos ter disso consciência e, cada dia, agir como tal, fazendo quem está à nossa volta sentir-se verdadeiramente um VSP.
Finalmente, o eco da sua alegria contagiante, numa gargalhada sonora e profunda, continuará a ressoar em nós, lembrando-nos como, na vida, somos chamados a ser sementes de alegria e artífices da felicidade para os que servimos, com a certeza que o mal não terá a ultima palavra e que o bem vencerá.
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