28 de janeiro
Acabado de aterrar em Nairóbi, com escala para Mombasa, para cumprir mais uma missão Ubuntu e GovInt. Quer um, quer outro projecto do IPAV marca presença numa iniciativa de desenvolvimento integrado da zona costeira do Quénia, num processo liderado pelo Inst Camões, com o apoio da União Europeia. Nos próximos dias teremos um programa cheio, em várias cidades desta região. A experiência de ir partilhando com o mundo o que fazemos e, simultaneamente, tendo oportunidade de aprender imenso, num permanente diálogo intercultural é um privilégio.
30 janeiro
Em pleno Change Lab, com as metodologias do Fórum GovInt, debruçados sobre a construção de um Blueprint sobre Turismo e Património Cultural na costa do Quénia, com 30 representantes de stakeholders desta região, num projeto liderado pelo Instituto Camões, em parceria com o JKP (Quénia). A equipa do IPAV, com os seus membros portugueses e quenianos vai facilitando o processo à procura de uma boa “Teoria da Mudança”.
1 fevereiro, 2023
Depois de dois dias de trabalho intenso, com a construção da teoria da mudança para o desenvolvimento de um plano estratégico e operacional para o sector do Turismo e do Património Cultural da Costa do Quénia, hoje foi dia de rumarmos a Kilifi, a norte de Mombasa.
Deixo algumas reflexões do dia:
#1 Acredito cada vez mais nos processos participativos dos Laboratórios da Mudança.
Sinto ainda a ressoar a alegria dos participantes do Change Lab que animamos aqui em Mombasa, nós dois primeiros dias. No final do dia de ontem, estavam eufóricos pelos resultados alcançados a partir da sua capacidade e conhecimento. Partindo de um ceticismo inicial que não esconderam, viveram uma metamorfose que lhes permitiu co-construir uma visão partilhada, geradora de esperança para este território.
O Modelo do Change Lab é realmente muito poderoso e a equipa luso-queniana do IPAV esteve muito bem na facilitação. Obrigado Rui Nunes da Silva, Sofia, Mónica, Harry e Queen e também o nosso convidado especial António. Vale a pena estimular a participação, com os incentivos certos, a orientação necessária e, sobretudo, com a confiança inabalável nas pessoas.
#2 Construção da Portugal/Kenya Academic Alliance.
Começámos o dia na Pwani University, em Kilifi. Connosco estiveram os líderes do Instituto Politécnico de Portalegre e da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar de Peniche, respetivamente Sérgio Leandro e Luís Loures, exemplos de uma nova geração de líderes universitários super-qualificados.
Numa reunião muito produtiva, desenharam várias perspetivas de colaboração numa “Academic Alliance” entre três universidades quenianas e duas portuguesas. Assinámos um importante MoU para os próximos passos que auguram coisas boas, nomeadamente a co-construção deste Blueprint.
#3 As pontes na oração.
Uma das coisas que encontrei aqui por estes dias - e também na visita à universidade - e que nunca tinha visto com estas características é a presença do momento de oração inicial em todas as reuniões e sessões. Começa-se sempre por aí e não é uma oração recitada a partir de uma qualquer fórmula. É uma oração com sentido e focada no que está a viver.
Mas o mais impressionante é que, com toda a naturalidade, vão alternando vozes muçulmanas e vozes cristãs nesses momentos de oração, sem nenhum problema e com um sentido de comunhão extraordinário. Que lição que o Quénia nos dá ao mundo inteiro nesta sua capacidade de fazer pontes…
#4 Porém o Al-Shabbat está algumas dezenas de kms de distância.
Quem vive nesta costa mais a norte, em Lamu, sente a sua vida permanentemente perturbada pelas incursões dos terroristas vindos da Somália que vão causando o medo que sempre querem instalar. Mas, e as vítimas e os habitantes desta região condicionada por estas ações são de que religião? Muçulmanos, na sua grande maioria.
Portanto toda a teoria de “choque de civilizações” não faz sentido neste contexto pois a guerra é outra e os interesses subterrâneos em jogo são de outra natureza.
#5 Cuidado com as serpentes.
Na visita ao Jardim Botânico desta Universidade deparei-me com esta placa logo no inicio, que nos relembra como é tão importante olharmos para o “chão” que pisamos. A bem de uma narrativa mais simpática para com estes répteis sempre tão desconsiderados, trata-se de nos avisar para termos cuidado porque ninguém gosta de ser pisado ou que quando se sente ameaçado reage, atacando. Provavelmente também somos (um bocadinho ) assim.
#6 Encontro com os Ubuntus de Kilifi.
Termino as notas do dia com o momento mais emocionante do dia: o encontro com os jovens da Academia Ubuntu de Kilifi. É sempre uma sessão única encontrar Ubuntus espalhados pelo mundo e ouvi-los sobre o impacto que teve e tem nas suas vidas o terem feito a Academia.
Num território muito marcado pelo desemprego juvenil é extraordinário vê-los a empreender com iniciativa e paixão, falando da Academia Ubuntu como uma família que se entreajuda e caminha junta. Deixei-lhes o desafio que dos actuais 40 Ubuntus possamos, até 2024 , chegar aos 1000 Ubuntus neste concelho. E acho que vamos chegar lá, atendendo à fibra e ao carácter destes líderes!
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