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Writer's pictureRui Marques

Reparar para Esperançar


Mote Ubuntu para 23/24: “Reparar para Esperançar”


Creio que nos ajuda, em cada etapa, traçar objetivos e metas a alcançar. Neste caso, no arranque de um novo ano letivo, para além de todos os trabalhos que nos esperam, precisamos de inspiração. E, na equipa Ubuntu, fomos pensando, discernindo e co-construindo juntos o que poderia ser o mote para este ano.


Esperançar, tema que nos acompanhou no ano passado, precisa de continuar presente. Em 2022/23, a Comunidade Ubuntu reviu-se neste desafio de Paulo Freire e foi afirmando, por palavras e, sobretudo, por ações, que somos capazes de fazer a diferença que queremos ver no mundo. Conjugámos muitas vezes o verbo no presente e lançámo-lo também para o futuro. Decidimos, pois, continuar a Esperançar.


Mas torna-se necessário ir mais longe. Inspirados pela “Economia de Francisco” e pelos relatos que desta iniciativa nos chegaram através de alguns participantes, acrescentámos um “como”, ao caminho do Esperançar: Reparar.


A palavra “Reparar” chama-nos a três atitudes de REPARAR.


Primeiro que tudo, REPARAR é saber voltar a parar. Sendo a nossa vida cada ver mais uma voragem de instantes que se consomem rapidamente, desafio-vos a que este ano saibamos criar tempos de paragem, para cada uma, para cada um de nós. Parar para saborear, parar para avaliar. Parar para (nos) escutarmos. Parar para discernir caminhos. Parar para não nos consumirmos.


Mas REPARAR, é também essa atitude subtil de saber ver com atenção. Saber ver para além do óbvio e do superficial. Saber ver com os olhos do coração. Saber ver o invisível. Para isso, temos de saber reparar. Estar atentos. Olhar com atenção. Convido-vos este ano a começar muitas conversas connosco próprios e com outros, com “Já reparaste que….?”. Mas que esta atenção se foque, por um lado, num desocultar a realidade para vermos tantas coisas boas que nos escapam e, por outro, que nos permita ter a atenção e o pensamento crítico suficientes para não nos deixarmos manipular, particularmente por culturas de ódio e de polarização.


Finalmente, REPARAR é também assumir a nossa imperfeição e o desejo de melhorar. Todos nós teremos algo a melhorar, algo a reparar. Esta constante melhoria, de quem humildemente se sabe imperfeito, mas que nunca abdica da possibilidade de fazer melhor, constitui uma enorme oportunidade. O que temos para reparar, em nós e, depois, no mundo à nossa volta?


Assim, Reparar para Esperançar, pode inspirar-nos para um ano que, não se afigurando fácil, pode gerar sentido e propósito para os nossos dias.


Deixemo-nos pois inspirar por este olhar para que possamos fazer a diferença à nossa volta!


A Academia de Líderes Ubuntu em Cabo-Verde


Escrevo-vos esta newsletter de Cabo-Verde onde me encontro em visita a um novo ciclo de formação de formadores da Academia de Líderes Ubuntu, numa parceria com a Câmara Municipal da Praia. Gosto sempre de regressar a este país, feito de esforço e de determinação de um povo que vence as maiores adversidades, com um sorriso nos lábios.


Em particular desde 2000 tem feito um trajecto de desenvolvimento socioeconómico que o levou a deixar de estar no grupo dos países “Subdesenvolvidos” e passar a integrar o grupo dos países de rendimento médio, num salto notável. Tem uma democracia que tem funcionado e a sua diáspora representa uma força notável. Tem uma das melhores esperanças de vida de toda a África e é o nono país africano no Índice de Desenvolvimento Humano. Porém, os últimos anos com o impacto cruzado dos efeitos da pandemia, da seca prolongada e da inflação não têm sido fáceis. Pelo contrário. Por isso, o tempo de esperançar aqui é, mais do que nunca, urgente.


A primeira formação de formadores Ubuntu ocorreu em 2018 e as sementes perduraram. Uma das participantes, Lediane Barbosa, hoje a trabalhar na Câmara Municipal da Praia, meteu “pés a caminho” e há alguns meses contactou-nos para ver da disponibilidade de um segundo ciclo de formação. O seu entusiasmo e competência, em ação partilhada com a nossa Mónica Rocha e Melo, e com o contributo inestimável dos fantásticos formadores Ubuntu da Guiné-Bissau, Edson Incopte e Paula Carina Camará, fez acontecer.


Foi também uma excelente oportunidade de estar com vários líderes caboverdianos, desde o nosso anfitrião, Francisco Carvalho, presidente da Câmara Municipal da Praia, à Secretária de Estado do Ensino Superior, até ao Senhor Presidente da República.


Neste grupo fica depositada a esperança que possam ser líderes servidores e construtores de pontes.




“Viagem”: uma interpretação para esperançar


A música que vos proponho para este mês vem de Tiago Bettencourt. A letra - para além da beleza da melodia - pode inspirar-nos para um arranque.


Arranque de uma viagem que queremos seja de encher as mãos livres, procurando luzes que nos faltam, encontrando os passos onde andamos.


Faz essa viagem, meu bem Que as tuas mãos livres venham cheias Que teus pés descalços ganhem vidas Serenem no alívio dessa estrada


Faz essa viagem, meu bem Tudo o que se perde ganha asas Anjos que caminham lado a lado Vozes que nos guiam as palavras


Vai além, segue vida, segue tempo Como folha na corrente Vai, meu bem, segue luta, fogo ardente Choro, riso, segue em frente


Voltarás um dia também Como todos nós que um dia vamos Procurando luzes que nos faltam Encontrando os passos onde andamos


Tens essa coragem, eu sei De largar as coisas mais amadas Descobrir o sítio onde se lavam Dores que se querem descansadas


Vai, além, segue vida, segue tempo Como folha na corrente Vai, meu bem, segue luta, fogo ardente Choro, riso, segue, em frente


Vai, meu bem


Voltarás um dia, eu sei Com teus anjos fortes pelo ombro Infinito amor em cada asa De braços abertos para casa




60 anos do discurso “I have a dream” de MLK: Não deixemos passar os nossos sonhos! Agarremos as oportunidades deste novo ano (letivo)!


Há poucos dias celebrámos os 60 anos do discurso “I Have a Dream”, proclamado por MLK, em Washington. Vale a pena regressar a esse ponto de inspiração.


Foi ficando fora de moda falar de sonhos. Sonhar foi sendo considerada uma atitude ingénua e infantil. O realismo impõe-se para que só se considere o que existe, o que é “possível”, o que é “razoável”. Por vezes, a crítica surge (com alguma razão, diga-se) pois sonhar representava, para alguns, somente um gesto de evasão e de alienação. Não é desses sonhos que aqui falamos. Gostamos mais da “escola” de Óscar Nyemeier que dizia que “é preciso sonhar para que as coisas aconteçam”. É preciso saber sonhar, com o tom do “I Have a Dream”, do nosso MLK. Por isso, vale sempre a pena regressar ao seu discurso.



Por outro lado, na capacidade de sonhar, tem de haver a coragem de arriscar. Por medo ou insegurança, por vezes, vamos adiando a concretização dos nossos sonhos e, um dia, descobrimos que é tarde demais. Que a oportunidade passou, que a energia já não existe, que a vontade se evaporou. Por isso, no arranque de um novo ano lectivo, é tempo de olhar para a nossa agenda de sonhos presentes e começar a concretizá-los, não deixar passar as oportunidades.



E, para terminar este roteiro, uma sugestão de um vídeo para trabalharmos com os nossos alunos, os nossos colegas, ou a nossa família. A capacidade de olhar atentamente para este vídeo e transferir a sua sabedoria para o nosso quotidiano.




Manifesto Ubuntu: recordando o essencial


Todos precisamos de uma bússola para as nossas viagens. A Academia Ubuntu também tem a sua.


Em 2018, no centenário de Mandela, lançamos o nosso Manifesto Ubuntu - Uma só família humana. Essa iniciativa resultou da necessidade sentida de termos um referencial comum que explicitasse a nossa identidade e que criasse um “chão comum”, para todos os Ubuntus, em todo o mundo. Proponho que possamos regressar a este texto e deixarmo-nos inspirar por ele.


Somos braços da mesma árvore

“Mandela divertia-se com o sentido literal das árvores genealógicas ocidentais. Na sua visão, somos todos braços da mesma grande árvore. Isso é ubuntu.” Richard Stengel, in O legado de Mandela
  1. Acreditamos no princípio fundamental da afirmação da igual dignidade de cada Pessoa e de todas as Pessoas. Essa igualdade é absoluta e incondicional, assim como o é o valor da vida. A ninguém, em nenhuma circunstância, lhe pode ser roubada e sempre que esta seja atacada, tal deve ser repudiado sem hesitação. Mas, mais do que isso, o atentado à vida ou a ferida à dignidade humana de qualquer pessoa diz-me respeito, toca-me. Por isso, somos chamados à ação para defender a vida e promover e restaurar a dignidade humana. Somos braços da mesma árvore.

  2. Reconhecemos a diversidade humana como um dom. Acreditamos que a riqueza criativa que nos é proporcionada pela diversidade étnica, cultural, política ou religiosa constitui uma força que nos deve unir. Mas, em simultâneo, nunca esquecemos que partilhamos uma mesma natureza, que se sobrepõe a qualquer diferença. Acreditamos na unidade na diversidade. Somos braços da mesma árvore.


Não me falem de portugueses ou americanos. Falem-me do João e da Teresa, da Susan e da Mary

"Há portugueses pobres e portugueses ricos; portugueses que não sabem ler e portugueses de cultura; portugueses exploradores e portugueses explorados, portugueses cuja vida na América é uma miséria e portugueses que só na América encontram dignidade.Há americanos obtusos e americanos compreensivos, americanos que exploram o português e americanos que o ajudam, americanos que odeiam o português e americanos que o admiram, americanos estúpidos e americanos inteligentes. Não concluam, portanto, o que são os portugueses e o que são os americanos. Falem-me do João e da Teresa, da Susan e da Mary..." Pedro D´Orey da Cunha, Entre dois mundos
  1. Temos presente o perigo de criar linhas que separam, categorias que nos arrumam ou dos estereótipos que nos habitam. Evitamos categorizar qualquer pessoa numa “história única”, consoante o grupo em que a colocamos. Queremos estar sempre abertos à riqueza de cada templo humano. Não me falem de portugueses ou de americanos. Falem-me do João e da Teresa, da Susan e da Mary.

  2. Recusamos qualquer expressão de maniqueísmo, que rotule grandes grupos humanos, catalogando uns como “bons” e outros como “maus”. Qualquer generalização de uma qualidade ou defeito, associando-a a uma identidade coletiva, está errada. Não me falem de portugueses ou de americanos. Falem-me do João e da Teresa, da Susan e da Mary.

  3. Acreditamos que cada pessoa é simultaneamente pertença e autonomia. Somos de pertenças múltiplas e temos uma autonomia em construção. É desse cruzamento que se faz a nossa individualidade, ainda que dentro de uma comunidade. Não me falem de portugueses ou de americanos. Falem-me do João e da Teresa, da Susan e da Mary.


A linha que separa o bem e o mal atravessa o coração de cada um de nós

“Gradualmente foi sendo claro para mim que a linha que separa o bem e o mal, não passa entre Estados, entre classes, nem sequer entre partidos políticos – mas sim por cada coração humano. E em todos os corações humanos. Essa linha muda. Dentro de nós, oscila ao longo dos anos. E mesmo dentro de corações oprimidos pelo mal, existirá sempre uma réstia de bem. E mesmo no melhor de todos os corações, permanecerá um canto de mal.” Aleksandr Solzhenitsyn, in Arquipélago de Gulag
  1. Defendemos que todas visões que cristalizam no tempo a definição do carácter de uma pessoa, mesmo a partir de algo errado que fez, podem enganar-nos. Somos seres em permanente evolução e em nenhum de nós desaparece a possibilidade de fazer florescer o bem dentro de si. E em nenhum de nós desaparece o risco de errar. A linha que separa o bem e o mal atravessa o coração de cada pessoa.

  2. Reconhecemos a complexidade e temos dúvidas. Sabemos que, tantas vezes, o que parece não é e que a verdade raras vezes é só uma. Por isso, devemos tardar em julgar e ainda mais em condenar definitivamente. Buscamos a compreensão tão completa quanto possível e nunca esquecemos que somos feitos de luz e sombra. A linha que separa o bem e o mal atravessa o coração de cada pessoa.


Não queremos ser julgados pela nossa cor de pele, mas pelo nosso carácter

“Eu tenho um sonho de que um dia os meus quatro filhos vivam numa nação onde não sejam julgados pela cor de sua pele, mas pelo seu caráter.” Martin Luther King
  1. Defendemos que ninguém pode ser julgado, nem ver os seus direitos e deveres minimizados ou abolidos, pela pertença a qualquer grupo étnico, político, religioso ou cultural. Nenhuma diferença nos pode diminuir. Não queremos ser julgados pela nossa cor de pele, mas pelo nosso carácter.

  2. Acreditamos no princípio da equidade. Reconhecemos que existem desigualdades estruturais e individuais que devem ser tidas em conta e erradicadas, criando todas as condições necessárias para uma verdadeira e completa igualdade de oportunidades para todos. Não queremos ser julgados pela nossa cor de pele, mas pelo nosso carácter.

  3. Acreditamos que a liberdade de cada a pessoa é um bem sagrado. Defendemos que nenhuma adversidade lhe deve retirar a consciência de que pode ser “senhor do seu destino / capitão da sua alma”. Mas com essa liberdade vem a responsabilidade do que fazemos e do que ignoramos. Não queremos ser julgados pela nossa cor de pele, mas pelo nosso carácter.


Precisamos de aprender a amar

Ninguém nasce a odiar as pessoas por causa da cor de sua pele, ou pelo seu passado, ou pela sua religião. As pessoas aprendem a odiar e, se elas podem aprender a odiar, elas também podem aprender a amar - já que amar é um sentimento que vem com mais naturalidade ao coração humano do que o seu oposto. Nelson Mandela
  1. Recusamos qualquer expressão de ódio e de violência, como forças motrizes da transformação social. O ódio desumaniza-nos e faz-nos olhar para o “outro” na categoria de “inimigo”, logo, menos humano. Não acreditamos que da violência nasça qualquer bem duradouro. Só a não-violência ativa, motivada pelo amor e no respeito até pelos nossos adversários, poderá trazer uma mudança justa e sustentável. Precisamos de aprender a amar.

  2. Não ignoramos as feridas da herança de tantas ofensas à dignidade humana que o mundo conheceu. Da escravatura ao antissemitismo, da perseguição por razões políticas, religiosas ou ideológicas ao racismo, da violência de género à discriminação em função da orientação sexual, entre outras, temos uma herança pesada que, em alguns casos, está ainda muito presente entre nós. Precisamos de ter consciência de que há um longo caminho ainda a percorrer. Só quando descobrirmos em cada Pessoa um irmão, igual em dignidade e companheiro de construção de um futuro comum poderemos crescer em humanidade. Precisamos de aprender a amar.



Ubuntu Fest Viana do Castelo 2023: relembrando momentos especiais


Sempre que os Ubuntus se reúnem algo de muito especial acontece.


A Ubuntu Fest de Viana do Castelo, em julho passado, foi um tempo muito especial. Organizada em parceria com o Instituto Politécnico de Viana do Castelo e a Câmara Municipal, constitui uma experiência de festa e de encontro muito especial. Com mais de 400 participantes e 35 convidados internacionais, consistiu em mais um momento do projeto Escolas Ubuntu em parceria com a Direção Geral da Educação que está a apoiar a presença das Academias Ubuntu em 400 Escolas pelo país.


Guardo com particular carinho as imagens de tantos sorrisos e abraços que foram sendo trocados, e a forma como se sentiu o espirito de comunidade. Ser Ubuntu é isto mesmo: ser em comunidade, cuidando uns dos outros.


Para quem não teve oportunidade de lá ter estado, ou para quem quiser rever o que lá aconteceu, deixo-vos os links para vários vídeos que deixam a memória do que aconteceu.




E desfrute desta magnifica síntese em vídeo do que aconteceu.



Uma Viagem de Transformação


Gosto, sempre que possível, trazer-vos histórias de líderes Ubuntu que, um pouco por todo o mundo, vão fazendo a diferença, pedindo-lhes que contem o impacto que a experiência Ubuntu lhes trouxe. Este mês escolhemos a Esther Kisavi, do Quénia.


"Chamo-me Esther Kisavi e, em meados de 2021, embarquei numa viagem que mudou a minha vida ao frequentar a Academia de Líderes Ubuntu no projeto Go Blue Kenya, um programa intensivo de desenvolvimento de liderança que visa capacitar os indivíduos a tornarem-se catalisadores de mudanças positivas nas suas comunidades e não só. Mal sabia eu que esta experiência me iria moldar de formas que nunca tinha imaginado, revelando um potencial escondido e transformando-me num líder mais compassivo, confiante e com mais impacto.


Trabalhar em rede com diversos grupos de participantes de toda a região costeira fez-me perceber a riqueza das experiências humanas e as perspectivas únicas que cada um de nós traz consigo. Ao longo do programa, participámos em workshops, seminários, atividades de formação de equipas e projetos de serviço comunitário como formadores. Estas experiências não só melhoraram as minhas capacidades de liderança, como também promoveram ligações profundas e amizades para toda a vida com os meus colegas participantes. Um dos princípios fundamentais da Academia de Líderes Ubuntu é abraçar a filosofia Ubuntu, um conceito africano que destaca a interconexão de toda a humanidade. Este princípio teve um impacto profundo na minha visão do mundo, mudando o meu foco de ambições egocêntricas para uma abordagem mais holística da liderança, onde a empatia, a compreensão e a cooperação são centrais. A componente de orientação do programa desempenhou um papel fundamental na minha transformação. Comecei a desafiar os meus pressupostos e fui encorajado a sair da minha zona de conforto. Sob a sua tutela, fui-me libertando gradualmente das minhas dúvidas e do medo do fracasso, aprendendo que os contratempos são trampolins para o crescimento e a resiliência. Um dos aspectos mais memoráveis da Academia de Líderes Ubuntu foi a ênfase no serviço comunitário e no impacto social. Fomos encorajados a envolvermo-nos com organizações locais, compreendendo os verdadeiros desafios enfrentados pelas comunidades e concebendo soluções práticas. Esta experiência prática deu-me um profundo apreço pelo poder da ação coletiva e despertou em mim uma paixão por fazer a diferença positiva na vida das pessoas. À medida que as semanas avançavam, assisti a uma transformação significativa no meu interior, pois encontrei a minha voz, ganhei confiança para articular as minhas ideias e comecei a enviar ativamente candidaturas a empregos. Dois meses após a formação, consegui um emprego na Village Enterprise, uma organização que se concentra em acabar com a pobreza extrema na África rural e que acredita fortemente na filosofia Ubuntu. O programa incutiu em mim a importância da escuta ativa, da empatia e da sensibilidade cultural para uma liderança eficaz. Estes valores têm sido vitais para liderar uma equipa no terreno e servir os nossos participantes-alvo. Talvez a mudança mais profunda que experimentei tenha sido na minha abordagem à liderança. Abracei a ideia de que a liderança não tem a ver com o exercício do poder, mas sim com servir os outros e capacitá-los para atingirem o seu potencial máximo. A filosofia Ubuntu ensinou-me que um verdadeiro líder eleva os que o rodeiam e cria um ambiente onde todos prosperam em conjunto. Olhando para trás na minha jornada, estou imensamente grato pela experiência da Academia de Líderes Ubuntu. Não só me transformou num melhor líder, mas também num melhor ser humano. A Academia ensinou-me que a liderança é uma viagem ao longo da vida de aprendizagem, crescimento e impacto positivo nos outros. Com o Ubuntu como filosofia orientadora, estou agora mais determinado do que nunca a deixar um legado duradouro de compaixão, compreensão e capacitação onde quer que eu vá."


Além disso, durante os fins-de-semana, estou a promover a cultura, a natureza e o povo de Taita Taveta. Fazemo-lo através de uma organização que fundámos chamada 𝐊𝐎𝐒𝐌𝐎𝐒 𝐄𝐗𝐏𝐄𝐑𝐈𝐄𝐍𝐂𝐄. Fazemo-lo criando conteúdos sobre a diversidade cultural, a natureza e as pessoas e partilhando-os com a nossa rede de redes sociais. O YouTube é a nossa principal plataforma, juntamente com o Facebook, o Instagram e o Tiktok. Até agora, conseguimos inspirar centenas de pessoas que nos contactaram para virem ao nosso concelho testemunhar a magia que temos. Isto obrigou-nos, enquanto 𝐊𝐎𝐒𝐌𝐎𝐒 𝐄𝐗𝐏𝐄𝐑𝐈𝐄𝐍𝐂𝐄, a acrescentar uma componente de guia turístico. A qual já conseguimos guiar mais de 500 pessoas até à data. Alguns dos locais maravilhosos que o nosso condado possui são o Lago Chala, um dos maiores lagos de cratera em África, o Lago Jipe, localizado em Tsavo West, o próprio Tsavo West, temos também uma das maiores árvores baobá em África, só para mencionar alguns. Por favor, visite a Kosmos Experience para efetuar as suas reservas."


A importância da forma como interpretamos a nossa história pessoal (e ajudamos os outros a fazer o mesmo)


Algumas vezes pensamos que a nossa vida é um simples acumulado de fatos que marcaram o nosso passado. Porém, essa é só uma parte da história. Somos, também, o que contamos sobre nós.


A vida não é um simples somatório de eventos. Os humanos têm essa capacidade única de dar sentido aos acontecimentos vividos, ligando-os e contando uma história sobre eles.


Yuval Hariri diz-nos que somos um “animal contador de histórias”. Diz-nos que temos essa capacidade única e que é a partir dela que somos capazes de cooperar e de construir projetos colectivos. Convido-vos a ouvir a sua reflexão sobre este tema. Concordemos mais ou menos com a sua análise.


As nossas sociedades contam histórias sobre o que aconteceu no passado, estruturam narrativas sobre o que acontece no presente e formular projetos para a história do futuro. Por isso é tão importante, por exemplo, o nosso “reparar para esperançar” como narrativa para um futuro desejado, ou a forma como recuperamos as histórias de vida de tantos que nos inspiram na visão Ubuntu.


Mas esta dinâmica de “contar histórias” não se joga só a nível coletivo, nas nossas estruturas sociais. Coloca-se também a nível individual. Por isso, na metodologia Ubuntu, damos tanta importância ao 4ª dia da Semana Ubuntu, dedicado ao tema “Vidas Ubuntu”. Procura-se trazer para o roteiro que percorremos juntos a capacidade de nos narrarmos, com intencionalidade, encontrando na nossa vida o sentido e propósito que tanto precisamos.


Uma figura referencial para a Academia Ubuntu é Erin Gruwell, a Miss G, do filme Páginas da Liberdade. Como poucos, ela soube usar o poder das histórias de vida para mudar vidas. Com os seus alunos foi explorando, através da construção de diários, a capacidade de cada um em refletir sobre a sua história de vida e desenvolver essa capacidade única de saber lidar com um dos princípios fundamentais que, a partir da Logoterapia, nos inspira:


“Nem sempre podemos decidir o que nos acontece na vida, mas podemos sempre decidir o que queremos fazer com o que nos acontece na vida”.


Proponho, por isso, que neste inicio de ano lectivo, voltemos à visão de Erin Gruwell para nos inspirar:



Um exercício para estes dias…


Para início de ano vale a pena regressar ao essencial. E se nos fosse pedido que disséssemos, em jeito de declaração ao mundo, uma só coisa, o que diríamos?


Comprei o livro "If I Could Tell You Just One Thing...", de Richard Reed, no aeroporto de Joanesburgo, no regresso da minha missão à África do Sul, em Abril deste ano. Chamou-me a atenção o conceito desenvolvido por Richard Reed e o seu conteúdo não desiludiu. Trata-se de uma coleção de textos elaborados em interação com diferentes personalidades que o autor contactou e que se centram na pergunta “Se pudesse dizer uma só coisa, o que diria?”. Isso remete-nos para o que consideramos vital, o que nos parece mais importante, depois de descartar todo o acessório.


“É o segredo da arte e é o segredo da vida: quanto mais tempo passamos a imaginar como é ser outra pessoa, mais desenvolvemos empatia pelos outros, bem como mais fácil é conhecermo-nos a nós próprios e sermos nós próprios.” Stephen Fry, Ator
A qualidade da sua vida, em última análise, depende da qualidade das suas relações. Não das suas conquistas, nem da sua inteligência ou da sua riqueza, mas da qualidade de relações baseadas no seu sentido de decência, na sua capacidade de pensar nos outros e na sua generosidade.” Esther Perel, Psicoterapeuta
“Viver é fazer a coisa certa, num dia dificil, quanto ninguém está a ver.” Lucy Giles, Militar

Neste inicio de ano, proponho-lhe um exercício. Pare, sente-se num local confortável, com uma vista inspiradora. Se o ajudar, junte música ao ambiente. E pense: se eu pudesse dizer uma só coisa, o que diria? O que já me ensinou a vida para entender o essencial?


Depois, se lhe for confortável, convide alguém particularmente significativo para si e conte-lhe esta reflexão. Temos a capacidade de nos inspirarmos uns aos outros e não devemos abdicar dela.


Portanto, se pudesse dizer uma só coisa, o que diria?



Tantas vezes somos/agimos assim…


(sem palavras)


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