top of page
  • Writer's pictureRui Marques

Covid: para que o pior da história não se repita



"Nos finais do século XV “aparece a sífilis, de cuja propagação se acusa sempre os outros, os inimigos. Para os italianos era o “mal francês”, porém os franceses chamavam-lhe o “mal napolitano”; os espanhóis baptizaram a doença como o “mal alemão” e os flamengos chamaram-lhe o “mal espanhol”; para os russos era ‘o mal dos polacos', e para os turcos, ‘o mal dos cristãos'."

El País Semanal, 11 de Outubro de 1992, p. 62


Recupero esta citação a propósito de uma das ameaças destes dias. Em vários países e em diversas comunidades, o medo do contágio transforma-se loucamente na culpabilização do "estrangeiro", do "outro", do que supostamente representa em perigo. Há dias o autarca de Felgueiras alertava para a discriminação que os seus concidadãos estavam a sofrer (foi um dos primeiros focos detetados de infeções em Portugal) e o mesmo se passará com Ovar ou outras comunidades particularmente atingidas. Em Macau, contam-nos, cresceu nos últimos dias um sentimento de hostilidade face aos estrangeiros, associado-os ao surgimento de novos casos.


Hoje mesmo em Timor, conta-nos o correspondente da Lusa, António Sampaio, começam a ser evidentes atos de hostilidade face a estrangeiros, acusando-os de serem portadores do virus, bem como ataques das comunidades à zonas de quarentena. Ainda antes da quarentena, olhávamos os nossos concidadãos chineses com potenciais ameaças e seus restaurantes e lojas esvaziaram-se...


Esta expressão de um medo enlouquecido aumenta com o processo - necessário - de quarentena e de fecho de fronteiras, que pressupõe que os outros representam uma ameaça. E assim se vai consolidando um dos maiores danos deste processo: olharmo-nos mutuamente como potenciais ameaças. Precisamos de nos "vacinar" contra este outro efeito do Covid19, contrariando proativamente este fenómeno, não buscando "bodes expiatórios", nem nos deixando dominar pelo pânico (ver artigo "Humanidade no Coronavírus: A importância da empatia para vencer o COVID19" de Jenny Ayumi Kai, nas referências em anexo). Ao invés, um profundo sentido de empatia e de compaixão, de humanidade comum deve inspirar-nos.

Estamos juntos neste caminho e só o vamos vencer juntos.


Referências.

(Imagem publicada no artigo "Peste II", de António de Castro Monteiro, em "Macau Hoje")

bottom of page