Uma enorme porta para esperançar é a aposta em melhor qualidade de relações interpessoais. Temos seguido com atenção o trabalho de vários parceiros internacionais, entre os quais se destaca o de Joan Quintana, com o Instituto Relacional de Barcelona, perito em “tornar visíveis, os invisíveis”.
A descoberta da obra de Joan Quintana tem sido uma boa surpresa. Cheguei ao seu contacto a partir da indicação dos nossos amigos da Fundacion SM que tinham editado o seu livro “Educacion Relacional: Diez claves para una pedagogia del reconocimiento”, de 2018. A sua (com Arnoldo Cisternas Chavez) abordagem humanista e relacional da educação é profundamente inspiradora e muito alinhada com o que temos desenvolvido com as Escolas Ubuntu.
Naturalmente deste contacto foram surgindo oportunidades de interação e colaboração e esse respeito e admiração têm crescido. Recentemente, em Dezembro passado, Quintana esteve em Lisboa, na nossa Conferência internacional sobre Colaboração e Governação Integrada, na qual fez a sua intervenção a propósito do tema “São as relações que mudam tudo”, que vale a pena rever aqui:
Depois disto, colocou-se a possibilidade de eu poder participar no curso de “Cultura e Estratégia Relacional” perto de Barcelona e, obviamente, não desperdicei a possibilidade. Num pequeno grupo de executivos, comecei essa experiência através do Método de Evolução Relacional, que se revelou muito útil para toda a reflexão/ação que os nossos dias impõem, em particular, para ir à procura do esperançar:
No seu último livro, acabado de editar, “Esclavos sin corbata”, Quintana traz-nos já uma reflexão sobre o impacto da pandemia, mas vai muito além disso. Cito o texto de introdução para “abrir o apetite” para a sua leitura:
“Nós, humanos somos seres relacionais e partilhamos uma necessidade comum: o desejo de sermos amados e reconhecidos. Vivemos procurando-nos numa rede constante de relações, nas quais todos nos ligamos uns aos outros e todos nos reconhecemos. O relacional encarrega-se de criar, fortalecer e regenerar os vínculos que nos unem. Quando os vínculos se debilitam, se rompem ou são inexistentes, as relações deterioram-se de tal maneira que nos fazem sofrer e nos levam ao confronto e a lutar com os nossos semelhantes.
Vivemos em constante relação. Mesmo quando não nos relacionamos, ainda assim estamos a fazê-lo, porque os humanos estamos em constante interdependência: com outros humanos e com outros seres vivos. Negar essa interdependência pode isolar-nos. Aceitá-la, complementa-nos e dá-nos a possibilidade de nos reconhecermos.
Somos seres relacionais em constante interação e interdependência. Quando deixamos de nos cuidar, ou quando não cuidamos do outro, descuidamo-nos a nós mesmos. Se ocasionamos desequilíbrios, desequilibramo-nos. Se geramos pobreza, empobrecemo-nos. Se causamos insegurança, tornamo-nos mais inseguros e temos de levantar grandes muros para nos protegermos do que nós mesmos criámos. A riqueza de um pode causar a pobreza de outro; o que equilibra num lugar, desequilibra noutro; acumular algo em demasia impede que outros acedam a esse bem.
Somos seres relacionais porque necessitamos ver os outros e que os outros nos vejam. É uma espécie de dança entre ver e ser visto. O ver os outros e o ser visto pelos outros, humaniza-nos porque, com isso, aceitamos a necessidade de estar juntos. A negação ou exclusão dos outros desumaniza-nos e remete-nos para estados de defesa, isolamento, involução e destruição mútua. Reconhecer os outros é sentir que pertencemos a algo que tem sentido para lá de nós mesmos.”
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