OS 3 P do nosso descontentamento
- Rui Marques
- 12 minutes ago
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Tem andado a bailar no meu pensamento o que fazer em relação ao tsunami social desencadeado pelos 3 P que Moises Naim, no seu livro The Revenge of Power: How Autocrats Are Reinventing Politics for the 21st Century, de Moisés Naím, sinaliza. Este autor introduz o conceito das “3P”: Populismo, Polarização e Pós-verdade, como ferramentas centrais utilizadas por líderes autoritários estão a subverter as democracias contemporâneas para consolidar e manter o poder.

O “P” de Populismo estrutura-se a partir do enfraquecimento das instituições, da negação da legitimidade dos opositores e da usurpação do direito de “verdadeiros representantes do povo”. Discursam contra a “sistema”, as elites ou a corrupção. Abusa do simplismo e é hábil manipulador de factos, pervertendo-os ou descontextualizando-os.
O “P” de Polarização está ligada ao primeiro e resulta da intenção de criar campos opostos, explorar divisões étnicas, sociais e culturais, e empurrando dinâmicas estruturadas entre “nós” e “eles”, a partir “outrificação” e da manipulação dos medos. Procura-se dividir para reinar, radicalizando discursos e construindo narrativas de ódio. Instrumentaliza-se “identidades” e destrói-se confiança.
Finalmente, o “P” de Pós-Verdade decorre da manipulação da informação, a imposição da mentira e a adulteração dos factos, criando narrativas “alternativas” que, potenciadas pelas redes sociais, se propagam a alta velocidade e sem mecanismos de regulação. A deslegitimação da ciência e da imprensa de referência abre espaço à criação de realidades paralelas (“verdades alternativas”) e, dessa forma, a abrir espaço para que cada um tenha a sua “verdade”, acreditando em tudo aquilo que a confirme e desmentindo tudo o que a contrarie.
Neste processo usam-se não só os recursos de manipulação em larga escala nas redes sociais, como mecanismos de coerção e violência que silenciem vozes contrárias. Para tudo isto, estes neo-autocratas são peritos na manipulação emocional, transformando a politica em espetáculo, e desenvolvendo um culto de personalidade.
Para enfrentar esta ameaça às nossas sociedades, há que cultivar a primeira das virtudes, segundo Churchill, que é a coragem. É ela que permite todas as outras. Mas note-se que não se trata de uma coragem acrítica e ingénua, mas sim uma coragem temperada por sabedoria, realismo e inteligência tática. Claro que é indispensável o combate à desinformação, a defesa das instituições democráticas e o compromisso cívico. Mas é preciso mais. Muito mais. E há que criar estratégias de despolarização, caminhos de regresso ao valor do conhecimento e da ciência e ao reforço substancial do pensamento critico.
Muitos duvidam se será possível contrariar, em tempo útil, este tsunami em movimento. Mas qual é a alternativa melhor ?
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