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  • Writer's pictureRui Marques

Cuidar dos laços #1

Somos sempre responsáveis pelas relações que criamos. Evitar a cultura do “toca e foge” talvez seja um dos grandes desafios do nosso tempo, no qual o efémero é a regra e tudo é volátil. É preciso cuidar dos laços que nos ligam. Decidi, por isso, escrever mensalmente, na ultima 4ª feira de cada mês, às pessoas com quem me fui cruzando em ações de capacitação do Ubuntu ou da Liderança Colaborativa. Procurarei, dessa forma, manter vivas essas relações, deixando pistas para reflexão, sugestões de leituras, de filmes ou de conferências e estando também aberto aos vossos contributos e partilhas.


Chegamos ao final de mais um ano da era Covid e parece que tudo recomeçou. Claro que não é possível ignorar a diferença abissal em relação aos danos causados, nomeadamente em número de mortes, mas este desconforto que a turbulência e a incerteza nos trazem é grande. Precisamos de aprender a viver neste tempo estranho. Recupero, para nossa inspiração, a intervenção do Prof. António Costa e Silva, na Abertura da VIª Conferência Internacional sobre Colaboração e Governação Integrada, que tanto inspirou os participantes.



A este propósito – e também de um ano que termina – recupero a ideia de “Esperança” que Costa e Silva sublinha no final da sua intervenção. Vale a pena, a este propósito, mergulhar no livro Humanidade – Uma História de Esperança, de Rutger Bregman, publicado em Portugal este ano. O seu autor mostra, como é referido na contracapa, que “é mais fácil acreditar na «banalidade do mal» devido ao trauma deixado pelos conflitos do século XX e à tendência que temos para pensar o pior da nossa espécie, mas que na realidade, na evolução como na história, a entreajuda se sobrepõe à competição, o altruísmo à maldade e a confiança à desconfiança.”. Mentira, ou, no mínimo, difícil de acreditar, dirão alguns. Sugiro que suspenda um pouco o ceticismo e leia este livro. O livro é perigosamente revolucionário.



Uma das histórias que Bregman conta neste livro é o surpreendente contraste do livro “O Senhor das Moscas” (ficção de William Golding em que um grupo de crianças abandonadas numa ilha se tenta autogovernar com um resultado catastrófico, evidenciando a maldade da natureza humana) e o que na verdade aconteceu com uma situação similar. Veja aqui esta história em que a realidade é muito melhor que a expetativa da ficção.



No final deste ano vale a pena revisitar momentos tão especiais que as Academias Ubuntu viveram nos últimos meses. Um deles foi a sequência de sessões de formação teórico-conceptual que tive o gosto de animar, com mais de 1700 educadores de todo o país. A compilação dos testemunhos das Esperanças dos educadores Ubuntu que constroem um mural lindíssimo em que se dava vida ao princípio “que as vossas escolhas sejam animadas pelas vossas esperanças e não pelos vossos medos”



A esperança também pode habitar em conversas tranquilas que nos inspiram. A Daniela Laranjeira, da Escola de Segunda Oportunidade de Matosinhos, anima um podcast designado “Faces da Educação” que vale a pena seguir e no qual tive o gosto de participar, partilhando a nossa visão sobre a metodologia Ubuntu.



São sempre as pessoas que nos dão esperança, apesar de todas as vicissitudes. Uma das memórias do ano, que gosto de partilhar convosco foi o lançamento do Museu Ubuntu, em parceria com a Câmara Municipal de Gaia. Este documentário, com a realização do Samuel Rodrigues e guião da Sara Martins Silva, é uma inspiração que levo deste ano, com a certeza de que cuidar dos laços que nos tornam comunidade é essencial.





Também ajuda a encontrar a esperança neste final de ano o regresso a um dos atores que mais me inspira: Roberto Begnini. O seu talento a dizer coisas muito sérias, com um humor desconcertante, teve seguramente no filme “A vida é bela” o maior expoente. Mas o que vos trago, vem de uma outra preciosidade: “O tigre e a neve”, uma história de esperança contra tudo e contra todos, na qual a poesia tem um lugar muito especial. Para além da sugestão de regressarem ao filme, deixo-lhe um excerto que nos pode desafiar para o ano que aí vem, com a capacidade de fazer da vida, poesia.


Voltamos a “ver-nos” na última 4ª feira de cada mês. Então, até dia 26 de janeiro e que 2022 chegue suave.




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