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  • Writer's pictureRui Marques

Em honra de Timor-Leste

Elogio à obra de Rui Manuel Carvalho





Timor deixa marcas em todos os que se cruzaram com aquela terra. Quase de uma forma mágica, o encanto das pessoas que aí encontrámos, os cheiros que nos inundaram ou as cores que, por todo o lado, vimos brotar, agarram-se à nossa memória, por tempo indeterminado. Fixar essa experiência em imagens foi a arte de Rui Manuel Carvalho, revelada nesta sua obra. E fê-lo de uma forma magnífica.


A viagem pelas fotografias que nos oferece, num gradiente sublime de luz e sombras, de um leque infinito de cinzentos, começa por evidenciar o que o Prof. José Mattoso identificou como traço determinante neste povo especial: a sua dignidade. Na sua simplicidade, por vezes a roçar a pobreza, as pessoas que habitam esta obra, nunca perdem a sua dignidade própria, que se comunica, desde logo, nos seus olhares. A riqueza de grandes planos que conseguiu, fotografando rostos esculpidos pela dureza da vida e pelo sacrifício, que tantas vezes lhes é exigido, mostra-nos sempre um olhar especial. Foi esse também outro talento do autor. Captou almas, através dos olhos daquelas pessoas que fotografou. E ofereceu-nos esse segredo. Somou-lhes também uma outra porta para entrar nessas vidas: os seus sorrisos. Aqui e além, principalmente na irrequietude das crianças, vemos o brilho dos seus sorrisos. Também por aí entramos na vida deste povo.


Junta-se a essa pluralidade de faces, olhares e sorrisos, um retrato da dinâmica do trabalho deste povo e da sua relação com o meio envolvente. Sabemos como os timorenses trabalham, tantas vezes, em condições duras e adversas. O que lhes exige a necessidade de sobreviver e de buscar sustento, convoca a sua força e a sua arte de tirar da terra e do mar o que precisam. Os retratos que aqui se alinham mostram essa realidade amiúde. Conseguem captar os contornos dessa realidade, entre pés na lama dos arrozais, passando pelos vendedores do peixe capturado, ou no bulício dos mercados ou ainda conduzindo o gado. Mostra-nos o que os timorenses são capazes de fazer, para lá de todos os fatores condicionantes de uma economia de subsistência.


Não escapou também à câmara de Rui Manuel Carvalho a possibilidade de fixar também as tradições e a religiosidade dos timorenses. Seria uma obra incompleta se tal ignorasse. Também nesse tema se sente a sua arte, entre o culto dos mortos ou a participação em celebrações eucarísticas com um fervor sempre impressionante.


É por tudo isto que se pressente nesta coleção um gesto de reconhecimento pela grandeza daquele povo. Este livro honra Timor-Leste e o seu povo.


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