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  • Writer's pictureRui Marques

Jacinta e o ocaso - ou os (duros) desafios de serviço público

Provavelmente seria uma das líderes mundiais que mais popularidade tinha. O exemplo de Jacinda Arden, primeira-ministra da Nova Zelândia, inspirava, em várias dimensões, tendo tido por exemplo, uma liderança notável na crise associada ao ataque terrorista a uma mesquita ou durante a pandemia.


Para compreender melhor esta figura, sugiro que comece por ver o excelente documentário que está disponível sobre a sua vida, na Netflix, na série “De que é feito um Líder".



Porém, apesar de tudo, resolveu apresentar a sua demissão. Não por qualquer escândalo, ou por ter perdido eleições. Simplesmente, porque não aguentava mais. Dizia, na sua despedida, “sou humana, os políticos são humanos”. E foi à sua vida. Sugiro também a leitura deste artigo do Público.


Vale a pena refletir sobre este caso de Jacinda Arden. O nível de exigência que é colocado em cima de quem exerce funções públicas é brutal. Não só a agenda que habitualmente tem para cumprir, como o escrutínio mediático tantas vezes para lá do justo e adequado, ou sobretudo a permanente e quase universal desconsideração pública de todos os que julgam a política como um campo de corruptos e de pessoas sem carácter são demolidores.


Podemos argumentar com as frases habituais (”só lá estão porque querem”, “eles querem é tacho”, “são todos iguais”) mas talvez fosse bom pensar um pouco mais sobre onde nos irá levar esta dinâmica.


Que pessoas, particularmente entre as mais competentes para serviço o bem comum, como precisamos na política, estarão disponíveis para este nível de desgaste? Que condições, enquanto comunidade, oferecemos a quem exerce estas funções? E não se trata só de salário. Trata-se essencialmente de respeito e de reconhecimento, como ponto de partida, sem perder o sentido crítico, mas percebendo que, como dizia Jacinda, “os políticos são humanos”. Como qualquer um de nós, erram e têm defeitos. Alguns terão mesmo comportamentos inaceitáveis. Já agora, como muitos outros que não são políticos.


Creio que este tema mereceria uma profunda transformação de critérios e de atitudes, que nos permitissem ir além da máquina trituradora que temos em funcionamento, à qual sobrevivem poucos.

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