Gosto muito de fotografia. E na galeria dos melhores está sempre João Mariano. No meu canto de trabalho as suas fotografias continuam a inspirar-me.
Esta imagem inspira-me desde há décadas. Não importa o bater ameaçador das ondas, há que continuar serenamente a minha missão. Está no meu gabinete, em formato grande. Para 2023, continuará atual. Quem a captou é um génio. Por isso, proponho-lhe uma visita guiada à sua galeria on-line. Os trabalhos de João Mariano deixam-nos sem palavras. A sua fotografia a partir do Sudoeste Alentejano é de uma riqueza extraordinária. Estivesse ele em Nova Iorque ou em Londres e teria o mundo (da fotografia) a seus pés.
Escrevi sobre uma das suas obras que “As sombras e os gestos são estranhos. Muito estranhos. Movimentam-se como figuras fantasmagóricas em busca de um elixir que as profundidades, por vezes, dão. Respiram um ar sujo e escasso, canalizado por uma longa e fina mangueira que os liga à vida que não é fácil . As longas horas submersas, repetindo movimentos de captura de algas que se escapam por entre os dedos, dão-lhes um estatuto de heroicidade que poucos conhecem e nenhuns invejam.
O frio que trespassa as peles artificiais com que se defendem, soma-se às temíveis bolhas que subidas e descidas nem sempre desfazem. E as feridas que o sal agrava tornam-se excessivamente presentes. Mas o bailado vai continuando, saco após saco, tonelada atrás de tonelada. A miragem de uns cobres adicionais que deem brilho aos magros salários que os seus dias de trabalhos colhem, justificam quase tudo. É verdade que também acolhem um secreto orgulho de ir onde nem todos vão. De dominarem a penumbra e controlarem o medo.
Como ninguém, João Mariano captou a alma destes aventureiros, dez metros abaixo da superfície do mar. Arriscou com eles, respirou com eles, viu com eles. Na continuação da saga dos “Guerreiros do Mar”, este fotógrafo maior da nova geração, foi mais além, por entre sombras e luzes foscas. Os registos que nos deixa, estão impregnados de arte e genuinidade, de saber e sabor. Os nossos olhos agradecem e a nossa sensibilidade não esquece.“
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