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  • Writer's pictureRui Marques

O Centro da Educação (visto de fora)

- Resumo -

Introdução Aparentemente, o sistema educativo escolar desenvolveu um modelo de reflexão, planeamento e intervenção onde o Estudante – suposto centro da acção educativa, num modelo de desenvolvimento humanista - parece ser tão somente uma simples peça do processo, quase desconhecida e, por isso, incompreendida. Tomando-o como uma massa ainda por moldar, igual e inespecífica, o sistema, ainda que sem dolo nem sequer consciência, menospreza-o. Consequentemente, as evidentes boas intenções dos objectivos, conteúdos e dos processos educativos esbarram num abismo para o qual não se construíram atempadamente pontes. Este abismo torna-se cada vez mais fundo, com a velocidade da mudança dos nossos tempos. Cada dia que passa a outra margem está mais longe. A velocidade da mudança, que contribui para que as gerações que convivem na Escola (professores e estudantes) se tornem mais distantes, aconselha a recuperar para o centro da discussão a prioridade ao (re)conhecimento sistemático do centro e razão de ser da Educação. Com efeito, que faz o sistema educativo para conhecer e compreender os estudantes, em cada momento e em cada contexto? Que iniciativas nacionais ou locais se conhecem que visem estudar a mentalidade, os valores, as referências e os anseios dos estudantes que passam pela Escola e integrar coerentemente o que se aprendeu no processo educativo? Que preocupação em compreender de uma forma sistemática as condicionantes dos processos de aprendizagem de cada estudante, considerado individualmente ou nos seus grupos de pertença ou referência? Quantas acções de formação de professores versam este tema? Quantas conferências de cariz educativo se fazem visando este objectivo ? É urgente que não nos deixemos manietar pelos interesses (muitos deles, legítimos) do que permanece no sistema – docentes, programas, procedimentos,… – e que, por isso, têm uma capacidade de pressão mais sensível. É necessário evitar ser submerso por uma imensidão de problemas laterais que tendem a perturbar a clarividência sobre o centro da Educação. É evidente que este não é um problema exclusivo da Escola. Outros importantes intervenientes no processo educativo sofrem de limitações equivalentes. Apesar dos esforços evidentes de aproximação geracional são muitos os pais que não partilham de um código que lhes permita compreender e interagir com os seus filhos. Mas, apesar disso, a Família parece estar a gerir melhor este objectivo de compreensão e comunicação com os filhos do que a Escola com os seus estudantes. Neste contexto parece então evidente que, se assumirmos os alunos como o centro da Educação, se torna tão necessário conhecê-los e compreendê-los, quanto definir os conteúdos e os processos educativos, pois não há eficácia educativa sem um justo equilíbrio da atenção a estas duas dimensões. Note-se que este conhecimento não se limita só a uma abordagem – aliás essencial – da Psicologia da Infância ou da Adolescência, nem, muito menos, a um simples estudo mais aprofundado da Pedagogia. É fundamental estar atento a traços mais subtis e voláteis: as tendências e as modas, os ídolos e as referências, o vocabulário e os códigos não escritos, os programas de televisão e os jogos de computador, a música e as causas deveriam ser suficientemente conhecidas para que a Educação seja eficaz. Apesar de ser bem conhecida a aversão do sistema educativo ao mercado e ao consumo, talvez houvesse algo a aprender com esse outro mundo. A atenção colocada no estudo do consumidor, dos seus gostos e dos seus comportamentos, precede quase sempre a acção de lançamento de um produto ou serviço para o mercado. Esta atenção centrada no cliente-consumidor foi simultaneamente causa e consequência de uma importante revolução na correlação de forças entre as partes. A diversidade de oferta, a concorrência, a necessidade de fidelizar clientes, o risco de ser penalizado quando se cometem erros, a urgência de permanentemente ouvir as sugestões, as críticas e as propostas dos consumidores fez com que os produtores de bens ou serviços deixassem de ser reis e senhores e se centrassem definitivamente nos clientes como caminho para o seu sucesso. Esta comparação, que pode soar a heresia no contexto do sistema educativo, serve, neste caso, para sublinhar um dos mecanismos de funcionamento do mercado – o perceber muito bem o alvo da comunicação. O investimento realizado em estudos de mercado, observatórios e, mais recentemente, nos serviços de atendimento ao cliente, mostram quão importante é conhecer e compreender o cliente. E os resultados estão à vista. Claro que a Educação não é igual à venda de sabonetes ou cereais. Todos sabemos disso. Nem se pode falar dos estudantes como de clientes, strictum senso. No entanto, o que pode ser idêntico é a noção de que para comunicar com eficácia (e educar exige comunicar com a eficácia máxima) é indispensável compreender muito bem o nosso interlocutor. Mais do que isso: exige colocá-lo no centro do processo. Isso obriga-nos a ir muito mais longe que o modelo educativo actual. Hoje, a Escola pede ao estudante que aprenda obedientemente o que se ensina, independentemente de se ensinar bem ou mal, ou mais grave ainda, se ensina o importante ou se se limita a acessórios. E como não cuida de se avaliar a si própria, estranha o insucesso e simplifica a culpa, situando-a exclusivamente no aprendiz. Essa opção radical de centragem no estudante não obriga, no entanto, a um atitude “seguidista” que torne o processo educativo refém de sondagens ou estudos de mercado. Há que saber situar esta atitude como ambiente indispensável para o sucesso do mecanismo interactivo do ensino/aprendizagem de saberes e competências essenciais. Um pouco à semelhança de quando se encontra alguém de uma língua/cultura diferente, é importante fazer uma aprendizagem da língua (ou no mínimo, ter uma terceira língua comum) e dos costumes para poder comunicar plenamente. Isso pode ser essencial, para expressarmos adequadamente os nossos pensamentos/sentimentos de forma que, no outro contexto cultural, seja perceptível o que dizemos. Assim torna-se igualmente necessário, no processo educativo, que os seus principais actores (pais, professores e outros educadores) saibam aprender a “língua” e os costumes dos “estrangeiros” (não de outra terra, mas de outro tempo) que vivem nas nossas escolas. Se o sistema educativo não tornar hábito estruturante o estudo e a compreensão dos seus estudantes, em cada segmento do tempo e do espaço, corre o risco de elevada taxa de ineficácia e concluir como frustrante a sua acção. Breve análise de algumas forças de mudança/ruptura que se exercem/exercerão nos futuros estudantes Não restam quaisquer dúvidas de que a turbulência e a aleatoriedade das mudanças em curso nos deixam sem capacidade de previsão sobre o que vai acontecer nas próximas décadas. A incerteza é, pois, a única certeza com que contamos. De qualquer forma, valerá a pena tentar percepcionar alguns movimentos/tendências que podem, directa ou indirectamente, constituir forças de ruptura que conformarão a sociedade e as pessoas no início do terceiro milénio. Os estudantes serão a linha avançada onde estes embates se darão e serão seguramente actores principais de muitos deles. Procuramos sistematizar dez grandes linhas de ruptura/mudança assim consideradas: 1.Velocidade A velocidade/capacidade de processamento dos computadores duplica todos os dezoito meses. O adjectivo “Expresso” marca serviços de valor acrescentado altamente requisitados como na revelação fotográfica, nos correios, nas entregas ao domicílio, entre outros. A grande queixa em relação à Internet é “ser muito lenta”. Um traço essencial na avaliação da qualidade de atendimento ao cliente é o tempo de espera e a rapidez com que se resolve a questão colocada. Uma das dimensões mais marcantes deste final de século é a afirmação da Velocidade como dado incontornável da nossa vida em sociedade. A aceleração ocorrida na segunda metade deste século, atravessa hoje a economia, a cultura, o lazer e a política. E as velocidades relativas originam atrasos que se vão tornando absolutos. O tempo - cada vez mais o vector estratégico determinante - é “expandido” por esta velocidade crescente que permite albergar mais e mais acontecimentos nos mesmos minutos. Ao nível psicológico, esse facto gera mutações relevantes, como seja a paciência para a espera que decresce significativamente – a impaciência é a nova regra - e a afirmação da superficialidade como resposta natural ao convívio com a velocidade. A trepidação da velocidade conduz também a uma definição instável das fronteiras. É curioso que um dos livros que vai fazendo moda actualmente – Blur , The Speed of change in the connected economy[1] - sustenta ser a velocidade (com a conectividade e os intangíveis) o elemento central da mudança actual que nos conduz a um conceito de “desfocagem” (Blur) em que as linhas divisórias clássicas (entre produtos e serviços, consumidores e produtores , empregados e empregadores) se atenuam. Também o recém-publicado livro de Bill Gates, “Negócios@velocidade do pensamento – com um sistema nervoso digital” se centra nesta perspectiva de valor crítico da velocidade no quadro da nova economia. Esta velocidade crescente tem como consequência, nas palavras de Giddens[2], vivermos mais perto de estar dentro de um carro desgovernado do que dentro de um automóvel cuidadosamente conduzido. Essa incomodidade é particularmente sentida por instituições que subjugam a velocidade a atitudes/valores como a reflexão, a serenidade e o conservadorismo enquanto características estruturantes, como é o caso das Igrejas e da Escola. Pode, no entanto, vir a verificar-se alguma inversão nesta tendência de aceleramento, se vier a ser possível uma transição (desejável) de uma Sociedade de Informação – tendencialmente acelerada e voraz – para a Sociedade do Conhecimento que permitirá a valorização de um ritmo mais lento, propício à “digestão” da informação relevante e da sua integração num quadro operacional consequente. 2. Ciclos Curtos À velocidade soma-se uma outra dimensão determinante: os ciclos curtos. Nada dura muito. O que alguém descreveu como a Era do Descartável assume-se cada vez mais como universal– apesar do reciclável também ser moda. Este fenómeno que Mermet[3] descreve como o do Homo Zappens, a partir da observação do comportamento humano face ao telecomando da televisão, é transponível para vários domínios da vida: a sucessão de várias vidas conjugais, a mudança frequente de emprego, a renovação de guarda-roupa, a variação de hobbies ou de locais de férias são alguns dos exemplos. Este cenário é reforçado nas novas gerações com a cultura visual do video-clip marcada pela cadência curta da duração dos planos escolhidos e, mais recentemente, pela dinâmica da navegação na Internet ao sabor do click do rato que faz saltar de página em página, de ideia em ideia. A Moda foi das primeiras indústrias a sustentar a sua actividade num conceito de ciclos curtos – as estações – como forma de diálogo com os seus consumidores. Sucessivamente esse posicionamento tem sido adoptado por outras actividades, com teorizações cada vez mais finas sobre o ciclo de vida de um produto, de uma empresa e não tardará que se estude o ciclo de vida de uma ideia, de uma tendência, concluindo seguramente que a sua duração é cada vez mais curta. As teses de Lipovetsky no “Império do Efémero” são particularmente interessantes.

Um olhar possível para as consequências desta tendência faz sobressair a instabilidade, a volatilidade ou a infidelidade como preço a pagar. Outros salientarão o enriquecimento provocado pelas experiências como ganho principal. 3. Império do Novo Este Império do Novo criou a máxima actual do jornalismo “ só é notícia um homem que morde um cão” e obriga as empresas a gastarem milhões numa permanente prospecção sobre o futuro, estudando com atenção as tendências societais, procurando antecipar as respostas às oportunidades emergentes. Uma outra dimensão interessante é a proliferação de Cartões de Fidelização (as gasolineiras são um bom exemplo), que procuram combater esta tendência de mudança para o novo. Como causa e consequência da velocidade somada aos ciclos curtos observa-se um verdadeiro império do Novo. Só o que é novidade tem existência mediática e fixa a atenção do consumidor. Este, é infiel e está sempre disponível a mudar os seus hábitos de consumo privilegiando o novo e a experimentação, em detrimento da fidelização a uma marca ou ideia. Os comunicadores do mundo dos media, do marketing ou da publicidade vivem permanentemente este desafio – que, por vezes, se transforma em pesadelo – de inventar e re-inventar respostas novas para as necessidades (antigas ou recentes) dos seus clientes. Visto do lado positivo, aí está uma excelente oportunidade que o mundo moderno oferece ao mercado da inovação e às Indústrias da criatividade, proporcionando-lhes espaço e tempo para a sua intervenção. Do outro lado da moeda, como sustentar o que é perene e imutável, por exemplo, ao nível dos grandes valores? Serão também eles vítimas da erosão da “não-novidade”? 4. Abundância e Diversidade Até 1991, Portugal dispunha de dois canais de televisão públicos. Hoje tem acesso a cerca de 40. Na geração anterior o cerimonial do “relógio da 4ª classe” era um acontecimento que perdurava anos e anos. Hoje a Swatch, um dos ícones do nosso tempo, disponibiliza modelos para usar conforme a indumentária ou o estado de espírito. Um outro traço particularmente importante no futuro próximo é a abundância e a diversidade que a maioria dos cidadãos dispõe, em vários planos. A diversidade da oferta disponível, de todo o tipo de bens e serviços, sustenta a concorrência e transferiu o poder do produtor para o consumidor. Hoje, cada cidadão, se quiser e souber, tem na sua mão a gestão das suas escolhas e assim pode influenciar decisivamente o mercado. Esta nova realidade levou um dos últimos Prémios Nobel da Economia ao corolário “Na economia da abundância, o recurso escasso é a atenção” que situa bem o cerne do novo combate dos produtores de informação: captar (e fidelizar) a atenção dos seus potenciais clientes. O grande sucesso da Internet são os “portais” como o Yahoo, que cumprem a função de agregadores de informação útil. Essa abundância e diversidade é particularmente visível nos recursos de Informação e Conhecimento que se multiplicaram exponencialmente nos últimos anos e ficaram acessíveis em novos canais massificados. Esta avalanche de informação, exige hoje uma enorme capacidade de separar “trigo do joio” e de garantias de qualidade e credibilidade das fontes disponíveis. 5. Prazer Já não há óleo de figado de bacalhau como antigamente, ir ao dentista já quase não dói e desde o Prozac ao Viagra de tudo se tem inventado na busca do prazer perdido. O futuro próximo confirmará seguramente esta tendência crescente de exigência de prazer, como condição quase indispensável, revelando uma baixa tolerância à carência de prazer. O que alguém já chamou Geração “Bife do Lombo” não valoriza o sacrifício ou o sofrimento como valores em si mesmo, nem age sobretudo por dever. Esta mudança estrutural tem múltiplas implicações, como se imagina e atinge todas as esferas do comportamento humano. 6. Interactividade O sucesso junto dos mais novos do Programa “Hugo” na TV – experiência ainda incipiente de interactividade televisiva – soma-se à moda emergente dos jogos on-line, que se desenvolvem numa rede de interacções em tempo real. Uma das tendências que tem vindo a consolidar-se é a interactividade. A passagem progressiva da hegemonia da oferta/produtor para a força da procura/consumidor transferiu o poder. Agora quem manda -mesmo que ainda não o tenha percebido - é o consumidor e a sua “voz” é ouvida com toda a atenção. Esta interacção que se expande a todos os campos de actividade humana – na política é cada vez mais usual “governar por sondagens” – torna-se cada vez mais instantânea, o que condiciona definitivamente todos os processos e desenha um novo tempo em que cada cidadão pode potencialmente interagir, em tempo real, com tudo o que o rodeia. Essa tendência está a ser reforçada nas novas gerações por efeito do multimédia interactivo. Os jogos de consolas e de computador desenvolvem a capacidade de apreender uma estratégia, aprender por tentativa-erro - podendo corrigir os erros imediatamente e recriar as situações - e persistir sempre até atingir o resultado esperado. Introduzem novos esquemas de observação/atenção e induzem novos registos de reactividade, interacção e espectacularidade. Os jogos de consola, os CDROM e a Internet são, pois, a primeira vaga dessa nova realidade que conformarão novos cidadãos que estão “habituados” a interagir com tudo o que lhes interessa. 7. Desmaterialização Ocupando o topo da lista dos multimilionários, Bill Gates construiu toda a sua fortuna na base de intangíveis – indústria de software - e que dispõe actualmente de um poder e notoriedade mundial verdadeiramente impressionante

Um das componentes essenciais da revolução presente sustenta-se na desmaterialização da economia. Com efeito, o peso dos intangíveis na Nova Economia – referida como Digital, em Rede, ou do Conhecimento conforme as correntes – assumiu uma relevância incontornável. A extensão geográfica, a posse de matérias primas, o poder militar ou mesmo o capital, deixaram de ser os principais factores determinantes no sucesso das nações. A qualificação dos recursos humanos, o acesso à informação de alto valor acrescentado, a flexibilidade e a capacidade de adaptação são alguns dos elementos relevantes neste novo tempo. Um símbolo desta mudança de paradigma é a digitalização que veio possibilitar, em alguns domínios, a passagem dos átomos aos bits e assim revolucionar a produção, gestão e difusão da informação. 8. Mobilidade A capacidade actual de mobilidade, em vários registos, é impressionante. Essa tendência sustentada, na dimensão física, na convergência da abolição progressiva de fronteiras antigas (geográficas, culturais e linguísticas, por exemplo) com a facilitação crescente (em tempo e custo) das deslocações, está a provocar alterações relevantes na nossa forma de pensar e agir. No contexto europeu, a livre circulação é mesmo um conceito estruturante da Comunidade. Mas há também uma outra dimensão de mobilidade virtual permitida, por exemplo, pelas comunicações móveis que tiveram um sucesso espantoso nos últimos anos, bem como nas possibilidades que outras potencialidades das telecomunicações permitem – “ir e estar” sem sair do mesmo sítio – bem patentes na teleconferência, no acesso a uma mesma caixa postal electrónica em qualquer parte do mundo, nas visitas virtuais, ou na participação em grupos electrónicos de debate. 9. Os novos anciãos A fácil relação com as novas tecnologias simboliza bem a ascendência das novas gerações que possuem novas competências altamente valorizadas na dinâmica social contemporânea. Nesta senda de transformações sociais, os jovens emergem como os “novos anciãos” que, à semelhança do papel antigo destes, têm um relevante ascendente social, determinam comportamentos e constituem-se como modelos. O pós-figurativismo, desenhado por Margaret Mead, implica uma influência ascendente nas gerações, com os mais novos a possuírem uma capacidade de influência determinada pelos seus saberes específicos e pela melhor sintonia com as tendências e as linguagens emergentes a que corresponde uma permeabilidade das gerações mais velhas a essa “aprendizagem”. 10. Era do Feminino Verifica-se de uma forma já clara uma ascensão das atitudes e dos valores tidos como femininos (não exclusivos das mulheres) como a intuição, inteligência emocional, equilíbrio, sentido prático, bom senso.. com a consequente perda de peso específico dos masculinos. Num sentido mais restrito, verifica-se, por exemplo, uma inversão da proporção dos sexos em níveis de instrução muito diferenciados, com a predominância de mulheres, bem como o seu peso crescente nas decisões de consumo.


3. Quadro Síntese Tendências / Novos Estudantes / Desafios à Escola

Tendência

Novos Estudantes

Desafios para a Escola

Velocidade

Impaciência. Trepidação. Turbulência.

Noção de ritmo.

Gozo da velocidade.


Sabem mais, mais cedo e mais superficial



(?) Cansaço »»» procura de outros ritmos mais calmos. Vazio provocado pela voragem da velocidade.

​Cultura de contra-rotina. Formação de todos os intervenientes para o sentido do ritmo, como dimensão vital na comunicação/relação.


Integração no processo educativo do valor do “saber mais coisas, mais cedo e mais superficialmente”


Assumpção lúcida, esclarecida e partilhada de um ritmo mais lento, propício à afirmação do Conhecimento, ao invés da avalanche da Informação.

Ciclos Curtos

​Dificuldade de concentração muito tempo seguido.

Pensamento em rede e lógica de hipertexto expandido a toda a actividade mental


Desconforto da mudança permanente

Abandono progressivo da fórmula expositiva clássica para formas interactivas de aprendizagem

Proporcionar uma “aprendizagem em rede” capaz de agregar e ligar conteúdos diversos

Tornar o Aprender uma moda social, expandida a todos os segmentos da população.


Dar a segurança de que alguma coisa permanece

Império do Novo

Atenção ao novo, que é portador de um valor intrínseco.


Valorização da experimentação


O mercado que os espera valoriza a capacidade de inovação e de adaptação à mudança.

Pesquisa permanente de caminhos, temas e perspectivas novas e divertidas na aprendizagem.


Aprendizagem centrada na experimentação e nos casos reais – simulações, estudo de casos, trabalho em laboratório, contacto prolongado com empresas e instituições,...


Formar para a criatividade e para a inovação como vantagens competitivas.


Valorizar predominantemente na avaliação a capacidade de gerar e gerir o novo/inesperado


Transformar permanentemente em novo, o antigo relevante

Abundância e diversidade

Habituados a dispor de uma oferta exponencial de recursos informativos e de







configurando uma oferta muito diversificada e cada vez mais segmentada e personalizada.





Desperdício


Dificuldade de escolha

rodutos de consumo,


Pleno acesso e integração dos recursos informativos (fontes, materiais, arquivos,..) no processo de aprendizagem.


Contributo específico para que quem aprende na/através da Escola (estudantes, professores, pais,..) saiba que informação precisa, como a procurar, avaliar e tratar bem como desenvolver um espírito crítico.


Oferecer um bouquet de soluções de aprendizagem personalizada ao invés de soluções massificadas. Aceitação de composição de curricula substancialmente diferentes.

Assumir claramente o fim do monopólio do Ensino, reconhecendo a importância e convergindo com outros espaços de aprendizagem ( inter-pares; família; empresas; ONGs; media;…)


Expandir os seus públicos alvo a todas as camadas etárias, criando condições para que a Escola ofereça a todos os cidadãos programas de aprendizagem à medida dos seus interesses e necessidades.


Sensibilizar para a gestão inteligente de recursos disponíveis.

Aprendizagem/treino em processos de decisão e escolha

Prazer

​Baixa tolerância à falta de prazer

Procurar valorizar a aprendizagem com prazer, desmistificando a obrigatoriedade de sacrifício e sofrimento.

Recurso intenso e imaginativo a “aditivos de prazer” para matérias mais áridas.

Treinar para sobreviver na ausência de prazer imediato, valorizando essa capacidade adquirida como instrumento importante para o futuro (recurso p.e. a acções outdoor). Diferir gratificações

Interactividade

Habituados a interagir entre si, com os pais e com os instrumentos do lazer e tempos livres.


Com opinião.


Sem a reverência pela hierarquia clássica

Promover a aprendizagem intensamente interactiva, em múltiplos sentidos: entre a comunidade escolar, com a comunidade envolvente (no espaço ou na rede) utilizando para tal todos os recursos disponíveis (da conversa presencial à Internet).


Saber ouvir


Retirar distância formal entre estudantes e professores.

Desmaterialização

A Nova Economia que os espera – Economia do conhecimento – valorizou o intangível e as redes, exige recursos humanos flexíveis, inovadores, prontos para funcionarem em rede e aptos para aprenderem sempre

Ser maior que o seu espaço físico, utilizando intensamente a Internet e as redes sociais e comunitárias como expansão imaterial das suas fronteiras – a ciberescola e a escola integrada.


Colocar os professores como nós funcionantes da rede.

Mobilidade

Cultura de intensa mobilidade física e virtual, assumida como parte integrante da sua vida.

​Integrar o conceito em todas as dimensões da sua actividade, promovendo a aprendizagem experimental de competências e saberes para enfrentar a mobilidade (capacidade de autonomia e de adaptação, conhecimento de outras línguas e culturas,..)


Dar mobilidade (no espaço e no tempo) à atitude de aprendizagem – A “escola” em qualquer lugar, a qualquer hora.

Os novos anciãos

Sentem ter uma influência crescente na família e na sociedade, determinada pela relevância atribuída às suas competências específicas e pela melhor sintonia – reconhecida por todos – com as tendências emergentes.


Potencial arrogância e auto- convencimento

Deixar de desprezar/menosprezar os estudantes, abrindo-lhes a Escola à sua participação efectiva, nomeadamente transferindo poder real e responsabilidade assumida.


Ajudar a valorizar a riqueza das diferenças e a compreensão da complexidade

Era do feminino

As raparigas/mulheres vão ganhando progressivamente hegemonia social e económica.

Valorizar a inteligência emocional, cultivando um equilíbrio entre a razão e o coração. Aproveitar a predominância do sexo feminino nos professores para reforçar esta dinâmica.




[1] de Stan Davis e Christopher Meyer, do Ernst&Young Center for Business Inovation, 1998 [2] in A. Giddens, “As consequências da modernidade”, Celta Editora, 1998 [3] In G. Mermet, Tendences 1998 - “Les nouveaux consomateurs”, Larousse, 1997


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