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Writer's pictureRui Marques

Existimos para fazer amanhecer

Tudo se poderia resumir a isto: fazer amanhecer. Em cada volta da vida, em cada relação construída, em cada encruzilhada…. Em Fevereiro, é por aqui que vamos.

Quando amanhece?


Há muitos anos que me acompanha uma história que um dia ouvi.

“Um dia, um rabino saiu com os seus alunos para uma visita de campo, ainda antes do nascer do sol. Já em plena planície, perguntou-lhes: “como sabem quando amanheceu?”. Um respondeu-lhe: “quando somos capazes de distinguir uma oliveira de uma figueira”. Ele fez uma pausa silenciosa. Os olhos dos jovens fitavam-no esperando a sua resposta, antecipando que a que tinha sido dada não o satisfazia. Ele retorquiu-lhe: “amanhece quando olhas o rosto de um estranho e percebes que é teu irmão. Então amanheceu”.

Desde então, pergunto-me, em cada circunstância, como fazer amanhecer…



Há muitos anos que me acompanha uma história que um dia ouvi.


“Um dia, um rabino saiu com os seus alunos para uma visita de campo, ainda antes do nascer do sol. Já em plena planície, perguntou-lhes: “como sabem quando amanheceu?”. Um respondeu-lhe: “quando somos capazes de distinguir uma oliveira de uma figueira”. Ele fez uma pausa silenciosa. Os olhos dos jovens fitavam-no esperando a sua resposta, antecipando que a que tinha sido dada não o satisfazia. Ele retorquiu-lhe: “amanhece quando olhas o rosto de um estranho e percebes que é teu irmão. Então amanheceu”.

Desde então, pergunto-me, em cada circunstância, como fazer amanhecer…


Há alguns que fazem amanhecer de uma forma muito especial. Conheci Cristobal Cólon. Sim, eu sei. Soa estranho. Mas é verdade. Este Cristobal Cólon tem 74 anos e fundou, com a sua mulher, Carmen, há 40 anos, um dos projetos mais extraordinários que já tive ocasião de visitar. La Fageda é, simultaneamente, um projeto empresarial bem sucedido e um projeto social de excelência.


Na simpática conversa que pudemos manter, durante um almoço nas instalações de La Fageda, pude perceber em primeira mão, como, há cinquenta anos este psiquiatra se desencantou (ou mesmo se revoltou..) com as condições de funcionamento do hospital de saúde mental em que trabalhava nesta região e decidiu seguir um outro caminho. Estávamos em 1973. Cerca de dez anos depois, compra uma quinta abandonada, num vale lindíssimo de faias, hoje reserva natural, e começa a construção deste sonho. Hoje tem mais de 350 trabalhadores, metade dos quais provenientes de situações de vulnerabilidade, a que se soma mais oitenta pessoas que são beneficiárias de vários serviços ocupacionais.



La Fageda assume-se com a “missão de melhorar a qualidade de vida e promover a integração social de pessoas vulneráveis, em La Garrotxa, na Catalunha, por meio de um trabalho digno. Para isso, utiliza uma poderosa estrutura empresarial, na qual emprega dezenas de pessoas com doença mental ou algum tipo de deficiência ou processo de exclusão.


O modelo de negócio nasce a partir da produção de produtos lácteos, de elevada qualidade, com particular destaque para a produção de dois milhões de iogurtes de elevada qualidade em cada semana. Compete diretamente com a Danone e outros gigantes do mercado e tem garantido a sua sustentabilidade com sucesso.


Orienta-se por quatro princípios de sustentabilidade:

  1. Incentivar o desenvolvimento de todas as pessoas do projeto.

  2. Responder às necessidades emergentes em matéria social no nosso território, nomeadamente promovendo o emprego, a formação e apoio a pessoas de grupos vulneráveis para melhorar a sua qualidade de vida e integração social.

  3. Trazer valor para a sociedade com bons produtos e bons serviços, num quadro de um projeto sem fins lucrativos, que reinveste todos os resultados que obtém.

  4. Cuidar do meio ambiente, fazendo uso responsável dos recursos naturais, energia e matérias-primas.

O mais recente projeto que La Fageda lançou, em 2022, é a Escola Novas Oportunidades que procura gerar caminhos de integração social para 70 jovens em risco de exclusão, desde logo os jovens migrantes que vão chegando nas pateras através do Mediterrâneo. É para eles que cooperaremos para que venha a ser possível que a Academia de Líderes Ubuntu seja mais um recurso para este projeto.


Nestes vídeos pode conhecer um pouco mais sobre este projeto e os seus fundadores, Cristobal e Carmen:




ENEU 2023 - Ainda a ecoar o amanhecer que permanece


Cada vez que a comunidade Ubuntu se reúne é sempre uma festa. Nunca falta o entusiasmo ou o frenesim dos que se juntam em torno de uma missão. Na Gulbenkian, mais uma vez foi tempo de celebrar as Escolas Ubuntu e fizemo-lo cientes do trabalho extraordinário que está a ser feito por tantas escolas, por todo o país, com a liderança de tantos diretores de AE e de formadores Ubuntu.



Retemos desse momento não só a alegria imensa, como o génio do José Pedro Cobra, que conduziu com o Tcherno Baldé e a Maria Guerra, toda a sessão, mas todos os pequenos detalhes que fizeram desse momento uma experiência tão especial.


O testemunho de várias experiências Ubuntu, na primeira pessoa, foi um dos momentos altos da nossa sessão. A memória do Bhoye Djallo, primeiro enquanto participante e depois como formador, o olhar cientifico do Prof. José Luís Gonçalves (que coordena o Conselho Científico) ou a força do testemunho da Professora Teresa Marinho, sempre marcado pela sua energia inspiradora, ajudaram-nos a perceber o impacto de tudo o que vive em cada experiência Ubuntu.



numa perspetiva internacional repetiram-se os ecos de quem sente o Ubuntu como algo muito especial. As vozes que nos chegaram de várias geografias mostraram-nos a universalidade deste conceito e o potencial de chegar a todo o lado.



Temos trabalhado muito o tema da gratidão, como expressão Ubuntu. Falamos de Vitamina G, como o que nos dá força e nos liga uns aos outros. Neste Encontro Nacional quisemos valorizar o contributo dado pelo Dr. Rui Vilar, na fundação da Academia Ubuntu, há doze anos. O seu apoio foi essencial, num tempo em que este projeto se limitava a uma experiência que envolvia 20 jovens por ano. Foi por isso o nosso Ubuntu Honoris Causa deste ano, num momento muito bonito.



E, claro, nestas memórias saborosas não poderia faltar o momento de fecho, em que a Luísa Vidal e a Margarida Vieira (de Tomar) interpretaram a composição original desta jovem Ubuntu, que já nos tinha encantado no ano passado e que voltou agora a fechar com chave de ouro a nossa sessão. Com efeito, esta música da Margarida sintetiza de uma forma brilhante todo o espirito Ubuntu.



Quénia - Ubuntus da plantação de mangais ao combate à radicalização


Uma das experiências que sempre me impressiona vivamente é o reencontro com Ubuntus, um pouco por todo o mundo, como experiência de ver amanhecer. Visitei recentemente o Quénia, onde temos cerca de 300 jovens líderes Ubuntu, que se formaram no âmbito do projeto Go Blue, liderado pelo Instituto Camões, do qual o IPAV - Instituto Padre António Vieira é parceiro, num projeto excelentemente liderado pelos nossos companheiros Rui Nunes da Silva, Mónica Rocha e Melo, bem como pelo Harry e pela Queen.



Ouvi, nos vários encontros que celebrámos, testemunhos corajosos e comprometidos com a construção de um mundo melhor. Nos seus discursos surgia de uma forma muito viva, a enorme preocupação com o impacto das alterações climáticas e o compromisso com a ação climática. Os efeitos no Quénia, dos últimos quatro anos de seca, assustam-nos a todos. Mas os Ubuntus não ficaram parados. Recordo em particular, a nossa líder que lançou mãos à obra e, num projecto de desenvolvimento comunitário, tem promovido a plantação de mangais, num contributo para o sequestro de carbono e para o combate aos efeitos negativos das perturbações climáticas. São já milhares de árvores plantadas mostrando que é possível agir.


Um outro exemplo que me marcou, em Mombasa, foi exemplo de jovens líderes Ubuntu, raparigas muçulmanas na sua maioria, no desenvolvimento de iniciativas de combate às tentativas de radicalização de jovens, a partir de interesses jihadistas presentes na costa oriental de África. O seu exemplo - enquanto mulheres e enquanto Ubuntus - é uma inspiração para todos nós.



Ainda o Quénia: a memória esbatida de Portugal


Um dos temas abordados pelo projeto Go Blue, no Quénia, relaciona-se com o património cultural e o turismo. Por isso, na visita que fiz, não poderia deixar de conhecer aquele que é provavelmente o expoente máximo desses recursos: o Forte de Jesus, em Mombasa, construído pelos portugueses, em 1593, liderados por Mateus Mendes de Vasconcelos.



Durante cem anos aí permanecemos, numa posição estratégica na rota da Índia, até termos sido derrotados pelos omanitas. Visitar esse espaço monumental constituiu, inevitavelmente, uma experiência especial. Encontrar nas paredes as memórias esbatidas da presença portuguesa traz-nos simultaneamente uma afinidade e um desconforto.


Por um lado, creio que é impossível não sentir algum espanto perante a ousadia destes nossos antepassados, vindos de tão longe e com todas as dificuldades de então. Aqui chegaram e, num contexto particularmente difícil, foram capazes de construir este imponente forte que permanece séculos e séculos depois. Por outro lado, é também inevitável o sentimento de que nunca aqui fomos queridos (Camões associa nos Lusíadas uma má experiência de Vasco da Gama em Mombasa, ao contrário do que aconteceria em Melinde) e tudo conspirou para a nossa expulsão.


A gestão deste legado, quer patrimonial, quer simbólico, projeta-nos hoje para uma realidade completamente diferente, deixando qualquer saudosismo bacoco para trás e abrindo-nos para outros registos.


Procura-se agora um encontro de povos e culturas, baseado no respeito mútuo e na capacidade de construirmos juntos caminhos de desenvolvimento sustentável, para o qual o turismo e o património cultural muito pode contribuir. Por isso, a oportunidade de fazer parte dos que protagonizam estes novos tempos constitui algo muito especial. Será outra forma de amanhecer diferente.



A experiência dos Change Lab - etapas e aprendizagens


Uma das atividades que mais tenho desenvolvido nos últimos tempos é o modelo dos nossos Change Lab. Estes Laboratórios são estruturados a partir da aplicação da Teoria da Mudança, em que perante um dado problema se procura mobilizar todos os parceiros relevantes para se centrarem nas soluções associadas aos impactos e resultados desejados e, a partir daí, construírem todo um plano de ação.



Dessa forma se promove, num primeiro momento, uma compreensão partilhada do problema e, depois, se constrói um compromisso partilhado de ação. Os resultados são sempre muito surpreendentes e, em relativamente pouco tempo, conseguem-se alcançar uma visão estratégica e operacional muito poderosas.


Nos Açores, por exemplo, estamos a desenvolver um Change Lab, com a Direção Regional de Qualificação Profissional e Emprego, para a implementação da Agenda Regional de Qualificação Profissional.


Com um particular enfoque nas questões associadas aos jovens NEET e aos desempregados de longa duração, o 1º seminário que realizámos produziu conclusões muito relevantes, em particular sobre como garantir uma maior cultura colaborativa neste ecossistema de educação/formação profissional, mas alcançar melhores resultados.



Já em Portalegre, numa iniciativa com o Instituto Politécnico, concentramo-nos no desafio de como promover o sucesso e reduzir o abandono escolar. Baseamos a nossa intervenção num forte compromisso de todas as partes, para entender como melhor agir, de uma forma sistémica, olhando não só para a dimensão individual e específica dos estudantes em situação mais vulnerável, mas também para as responsabilidades do docentes e não-docentes, das redes familiares e de amigos e dos parceiros externos ao IPP. Os resultados que começam a emergir são muito animadores.



Contudo não só em Portugal temos tido oportunidade de desenvolver estes Laboratórios da Mudança. Na experiência recente do Quénia, o foco esteve na promoção do desenvolvimento sustentável a partir da economia azul , em particular do turismo e do património cultural (TPC). Sempre num olhar a 360º , procurámos o envolvimento de todas as partes para este processo de co-construção. Aqui, estabeleceram-se quatro dimensões, que vão desde as políticas públicas de apoio ao TPC, as infraestruturas de apoio, as indústrias associadas ao TPC e, naturalmente, os recursos naturais e culturais disponíveis.



E o que temos aprendido com estas dinâmicas? Sublinho três dimensões:

  1. A mudança é possível se formos capazes de mobilizar o melhor de uma inteligência coletiva e conectiva. Quando se consegue que as pessoas, num dado ecossistema se sentem, se conectem e pensem juntos , os resultados são sempre animadores.

  2. Só se consegue mudar algo de relevante se o foco estiver muito afinado nos resultados e nos impactos que pretendemos alcançar. Não se trata portanto de “fazer” , mas sobretudo de que irá acontecer a partir do que fazemos.

  3. A pressa é inimiga dos bons resultados. Estes processos precisam de tempo, para todo um ciclo que terminem em resultados sólidos e robustos. Há que dar tempo e percorrer todas as etapas necessárias, sem nos deixarmos levar pela ansiedade de chegar ao fim rapidamente. O tempo é um grande escultor, como diria Yourcenar.


Jacinta e o ocaso - ou os (duros) desafios de serviço público


Provavelmente seria uma das líderes mundiais que mais popularidade tinha. O exemplo de Jacinda Arden, primeira-ministra da Nova Zelândia, inspirava, em várias dimensões, tendo tido por exemplo, uma liderança notável na crise associada ao ataque terrorista a uma mesquita ou durante a pandemia.



Para compreender melhor esta figura, sugiro que comece por ver o excelente documentário que está disponível sobre a sua vida, na Netflix, na série “De que é feito um Líder".



Porém, apesar de tudo, resolveu apresentar a sua demissão. Não por qualquer escândalo, ou por ter perdido eleições. Simplesmente, porque não aguentava mais. Dizia, na sua despedida, “sou humana, os políticos são humanos”. E foi à sua vida. Sugiro também a leitura deste artigo do Público.


Vale a pena refletir sobre este caso de Jacinda Arden. O nível de exigência que é colocado em cima de quem exerce funções públicas é brutal. Não só a agenda que habitualmente tem para cumprir, como o escrutínio mediático tantas vezes para lá do justo e adequado, ou sobretudo a permanente e quase universal desconsideração pública de todos os que julgam a política como um campo de corruptos e de pessoas sem carácter são demolidores.


Podemos argumentar com as frases habituais (”só lá estão porque querem”, “eles querem é tacho”, “são todos iguais”,..) mas talvez fosse bom pensar um pouco mais sobre onde nos irá levar esta dinâmica.


Que pessoas, particularmente entre as mais competentes para serviço o bem comum, como precisamos na política, estarão disponíveis para este nível de desgaste? Que condições, enquanto comunidade, oferecemos a quem exerce estas funções? E não se trata só de salário. Trata-se essencialmente de respeito e de reconhecimento, como ponto de partida, sem perder o sentido crítico, mas percebendo que, como dizia Jacinda, “os políticos são humanos”. Como qualquer um de nós, erram e têm defeitos. Alguns terão mesmo comportamentos inaceitáveis. Já agora, como muitos outros que não são políticos.


Creio que este tema mereceria uma profunda transformação de critérios e de atitudes, que nos permitissem ir além da máquina trituradora que temos em funcionamento, à qual sobrevivem poucos.



Conhecimento e Sabedoria… e toda a escuridão do mundo


Talvez se possa dizer que o nosso tempo tem demasiada informação, para algum conhecimento, mas infelizmente pouca sabedoria.



Gosto de recuperar a associação de “Sabedoria” ao que tem de sabor. Creio que é uma imagem muito expressiva, para quem não se quer deixar numa vida insossa (ou insonsa, como preferirem) e que busca provar cada pedaço do existir e do conhecer, à procura dos sabores que trará, doces ou salgados, amargos ou ácidos. Porque a sabedoria não é só doce, claro. Se alguns têm - ainda - uma visão romântica da sabedoria há que ajustar as expetativas para um realismo que está preparado para encontrar de tudo um pouco.


Creio que é também relevante a distinção entre talento (inato) e sabedoria (que se adquire). Se é verdade que nem todos temos os mesmos talentos ou que alguns de nós não fomos bafejados por este ou aquele talento que gostaríamos, ninguém está, à partida, afastado de chegar à sabedoria. Por isso, encontramos sábios “improváveis”, no meio de uma aparente escassez de conhecimentos.


Recuperemos, para mergulhar mais nesta busca, uma ilustração muito conhecida, mas à qual vale a pena regressar:



Esta imagem gráfica é muito inspiradora na compreensão do longo caminho a percorrer desde a miríade de dados com que somos bombardeados hoje em dia, até à depuração dada pela leitura profunda do sentido que a sabedoria nos proporciona.


Esta antiga busca pela sabedoria, esse desejo salomónico, parece ter perdido valor facial, hoje em dia. Mas nunca é tarde para o recuperar. Deixo as pistas que mais me inspiraram, a partir deste gráfico.

  1. O grande salto que podemos dar a partir de muita informação é a nossa capacidade de a relacionar e a fazer dialogar entre si. Esta é mais uma evidência como é importante o relacional.

  2. Entre tudo o que se conhece há que identificar o que faz verdadeiramente a diferença. Serão poucos os pontos que brilham efetivamente, num panorama geral de conhecimento. Essa ignição precisa de ser captada.

  3. Há que ligar, gerando sentido, o que nos inspira mais, num movimento de aproximação à sabedoria. Isso implica escolhas e retirar coisas que estão a mais. Deixaremos, então, para trás o desejo de uma vida de sucesso para chegar a uma vida significante.

  4. Cuidado, porém, com o que nos propõem pelo caminho de busca de sabedoria. Há sempre quem nos queira fazer ver unicórnios….

Podemos ir por outro lado, com mais um “pequeno grande detalhe” que esta imagem complementa:



Supõe-se ser de Lao Tsé, a frase “Se queres alcançar o conhecimento, soma coisas todos os dias. Se queres chegar à sabedoria, remove coisas todos os dias”. Esse despojamento do que está a mais, do que não é essencial, do que nos causa só peso e deformação representa uma jornada exigente na descoberta do “menos é mais”. Confesso que estou muito , muito longe de o conseguir, mas não deixa de ser uma boa pista para o futuro.


Mas esse caminho longo para a sabedoria não só nos permite chegar ao âmago do essencial, como a ganhar tanto um olhar sobre o absoluto, como a capacidade de relativizar ou de colocar em perspetiva. A propósito, vem à memória este conto, transcrito no livro “O que podemos aprender com os gansos”:


“Havia, certa vez, um rei sábio e bom que já se encontrava no fim da vida. Um dia, pressentindo a chegada da morte, chamou o seu único filho, seu sucessor no trono, tirou do dedo um anel e deu-lho, dizendo: - Meu filho, quando fores rei, leva sempre contigo este anel. Há nele uma inscrição. Quando viveres situações extremas de glória ou de dor, retira-o e lê o que nele está escrito. E o rei morreu, e o seu filho passou a reinar em seu lugar, usando sempre o anel que o pai lhe deixara. Passado algum tempo, surgiram conflitos com um reino vizinho que culminaram numa terrível guerra. À frente do seu exército, o jovem rei partiu para enfrentar o inimigo. No auge da batalha, os companheiros lutavam bravamente; mortos, feridos, tristeza, dor. O rei lembrou -se do anel. Tirou-o do dedo e leu a inscrição: «Também isto passará.» E continuou a lutar. Perdeu umas batalhas, venceu outras, mas no fim saiu vitorioso. Retornou, então, ao seu reino e, coberto de glória, entrou em triunfo na cidade. O povo aclamou-o. Foi tratado como um herói. Nesse momento, ele lembrou-se do seu velho e sábio pai. Tirou o anel e leu: «Também isto passará»."

(…e o contributo do Chat GPT)


A sabedoria é uma qualidade que pode ser desenvolvida ao longo da vida, mas que exige um compromisso constante com o autoconhecimento, a reflexão, a prática e a aprendizagem contínua. Aqui estão algumas sugestões que podem ajudar a desenvolver a sabedoria:

  1. Cultivar a humildade: a sabedoria começa com a humildade. É preciso reconhecer que não se sabe tudo e estar disposto a aprender com os outros e com a própria experiência.

  2. Praticar a reflexão: a reflexão regular sobre as próprias ações, escolhas e experiências ajuda a ganhar perspectiva e a compreender melhor a si mesmo e aos outros.

  3. Buscar diferentes perspectivas: a sabedoria envolve ter uma compreensão mais ampla e profunda das coisas. Por isso, é importante buscar diferentes perspectivas e estar aberto a novas ideias e pontos de vista.

  4. Desenvolver a empatia: a empatia envolve a capacidade de se colocar no lugar do outro e compreender seus sentimentos e perspectivas. Ela é fundamental para desenvolver a sabedoria, pois permite compreender melhor as pessoas e as situações.

  5. Aprender com os erros: a sabedoria também envolve aprender com os próprios erros e fracassos. Em vez de se culpar ou se sentir desanimado, é importante usar essas experiências como oportunidades de aprendizado e crescimento.

  6. Cultivar a gratidão: a gratidão envolve reconhecer e apreciar as coisas boas da vida, mesmo nas dificuldades. Ela ajuda a desenvolver uma perspectiva mais positiva e a compreender melhor o valor das coisas.

  7. Buscar a sabedoria em outras fontes: além da própria experiência, é possível buscar a sabedoria em livros, filmes, conversas com pessoas mais experientes, entre outras fontes.

  8. Praticar a meditação ou mindfulness: a meditação e o mindfulness ajudam a cultivar a atenção plena e a consciência do momento presente. Isso pode ajudar a desenvolver a sabedoria ao permitir uma compreensão mais profunda das coisas e uma maior clareza mental.


A arte de fazer boas perguntas


Há dias perante a discussão sobre as ameaças da inteligência artificial, nomeadamente sobre o impacto do Chat GPT nas nossas vidas e, particularmente, na educação, ouvi uma sábia consideração que me ajudou a iluminar esta inquietação sobre as transformações que se começam a desenhar.



Dizia alguém que “as máquinas em breve serão imbatíveis nas respostas que são capazes de dar”. Mas acrescentava: “Porém nunca serão tão boas como nós na qualidade das perguntas que podem ser feitas”. Fiquei a pensar.


Bem sei que não é de agora a relevância dada à capacidade de fazer perguntas que, por exemplo, o diálogo socrático, nos legou. Creio que, porém, com todos estes desafios no horizonte, a que poderíamos somar todo o fenómeno da “pós-verdade” e das “notícias falsas”, precisamos de reaprender a fazer boas perguntas e a apurar o nosso sentido crítico, como competência chave para o século XXI.


Esta capacidade não se limita simplesmente à força da questão em si mesmo, mas também a não nos deixarmos levar pelo principal inimigo da democracia contemporânea: O simplismo. Precisamos de cultivar não só um pensamento crítico, mas também uma abordagem sistémica e complexa.



(…e o contributo do Chat GPT)


O que é uma pergunta sábia?


Uma pergunta sábia é uma pergunta que leva a uma resposta profunda e significativa, permitindo uma compreensão mais profunda de um assunto. Além das características de uma boa pergunta, uma pergunta sábia também pode incluir:

  1. Reflexiva: uma pergunta sábia requer que o entrevistado ou interlocutor reflita sobre a resposta, muitas vezes exigindo uma análise mais profunda do assunto.

  2. Intencional: uma pergunta sábia é feita com uma intenção clara e consciente de obter uma resposta útil e significativa.

  3. Contextual: uma pergunta sábia é feita com uma compreensão clara do contexto e da situação, garantindo que seja relevante e apropriada.

  4. Empática: uma pergunta sábia leva em consideração os sentimentos e perspectivas do entrevistado ou interlocutor, demonstrando interesse e empatia pelo outro.

  5. Desafiadora: uma pergunta sábia pode desafiar a sabedoria convencional ou pressupostos, levando a novas ideias e insights.

Uma pergunta sábia pode ser uma ferramenta poderosa para aprofundar a compreensão de um assunto, desenvolver habilidades de pensamento crítico e estimular o diálogo significativo.



Vozes de quem caminha


Vozes de quem caminha” é um dos resultados de um programa de storytelling e empoderamento, desenvolvido junto de seis pessoas migrantes e refugiadas que resulta num toolkit com as suas histórias de vida.



Projeto desenvolvido com a liderança da MEERU, uma associação que tem como missão “promover o Diálogo e a Proximidade como caminho para o desenvolvimento de Comunidades” e que acredita “numa visão integrada do desenvolvimento humano e social sustentável, sendo a Pessoa e a sua inerente, inviolável e inalienável dignidade o centro de todas as motivações, decisões e ações.”


Vale a pena conhecer com atenção o projeto da MEERU pois representa um exemplo de inovação social, plena de sentido e de potencial de transformação social. Cada história tem como objetivo ser o ponto de partida para reflexões profundas e conversas significativas sobre a sua mensagem. Basta carregar aqui e pode obter o livro na sua versão digital.


As histórias foram escritas por Margarida David Cardoso, as ilustrações são de Marta Marques e a composição gráfica de Catarina Soares Barbosa.


Partilho um excerto da história de Ghufran Shlash:

”Sei que temos que continuar a tentar, tentar, tentar, fazer, fazer, fazer. Andar sempre para a frente. Há marcas do meu passado que não consigo deixar de trazer comigo, mas não quero ficar presa nelas. O medo tem que ficar no passado. Já recomecei a minha vida quatro, cinco vezes e não sei que mais voltas ela dará. Não faz mal, venha a próxima. Em breve, eu e o Zacharia queremos comprar uma casa, perto do resto da minha família, em Braga. E se conseguir cidadania portuguesa e melhorar o meu português, vou tentar entrar na universidade — seja aos 30 anos, seja com que idade for. A minha vida ainda tem muitas possibilidades.”

Isto é… fazer amanhecer. 😊



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